Não tenho dúvida de que o domingo passado tenha sido motivo de um foguetório para a governança instalada em Brasília, pois mais uma vez Bolsonaro viu os seus fiéis apoiadores, devidamente empacotados em verde amarelo, desfilarem por ruas e avenidas para aclamá-lo como líder único e absoluto, escolhido por Deus para salvar-nos das garras do comunismo, odiado e ateu.
Ressalte-se que, para os convictos, comunistas são todos aqueles que não comungam com as excêntricas e bizarras teorias deste presidente, que na semana passada, em São Paulo, num jantar com a fina flor do empresariado nacional, destacou em seu discurso que “Doria é vagabundo, caralho!”.
Atualmente, o bolsonarismo anda profundamente empenhado em convencer os menos informados de que 1964 acaba de bater às portas de 2021, e que o único antídoto eficaz para nos proteger do perigo do comunismo seria um golpe militar, obviamente com Bolsonaro solidamente instalado no topo do poder.
Ignoram estes diletantes de nossa história, que o momento político que levou ao golpe de 64 nada tem a ver com a problemática atual, pois em março daquele ano fatídico, viamo-nos às voltas com um governo acuado e enfraquecido por greves do operariado e revoltas nas Forças Armadas, além da ingerência permanente de Cuba de China em nossa política interna, ávidas que estavam, em preparar o terreno para o golpe que conduziria o país à órbita do marxismo leninismo.
Esses dramáticos acontecimentos levaram a uma sólida união para o que der e vier entre a nossa temerosa classe média, a classe empresarial, a poderosa Igreja Católica e os militares, todos dispostos a defender as nossas liberdades fundamentais, a democracia e os valores cristãos.
Ninguém duvida de que foram os militares que nos livraram de um iminente golpe comunista, mas também ninguém duvida de que foram eles que nos privaram, durante longas décadas da democracia, impondo-nos uma severa ditadura militar, os anos de chumbo, com AI-5, torturas, prisões, sequestros, censura e exílios, bem ao gosto das Repúblicas Sul Americanas da época.
Em 2021 nenhuma potência estrangeira se mostra interessada em ameaçar nossa democracia e a tão propagada ameaça comunista não passa de uma artimanha eleitoral para amedrontar os menos avisados e temerosos, e garantir os seus votos para o “Salvador da Pátria” nas eleições presidenciais de 2022.
O nosso verdadeiro desafio, neste momento, é a desesperada guerra contra o Covid-19, que continua ceifando uma média de 3 mil vidas brasileiras diariamente. Fruto da falta de um acurado planejamento e de uma política sanitária abrangente, faltam leitos nos hospitais, UTIs, vacinas, insumos, kits de intubação, bem como profissionais preparados para administrar essa engrenagem contra a morte, o que leva um sempre maior número de brasileiros a morrer nos corredores dos hospitais a espera de uma UTI salvadora. Trágico.
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