Quanto mais perto chegamos do dia da posse do novo presidente Jair Bolsonaro, mais crescem os anseios e expectativas daqueles que desejam e merecem um Brasil melhor a partir de janeiro de 2019.
Já não existem mais dúvidas de que a partir do primeiro dia do próximo ano, um governo militarista passará a dirigir os negócios da nação, instalando-se no Palácio do Planalto meia dúzia de oficiais de alta patente que, com o presidente eleito, formarão o núcleo do poder que conduzirá o governo Bolsonaro. A rigor, a concentração de fardas no centro do poder de um país democraticamente constituído está longe de corresponder ao modelo ideal praticado pelas democracias ocidentais, mas possivelmente seja este o preço a pagar para quebrar a estrutura herdada do nefasto reinado petista.
Junto aos militares, os evangélicos têm desempenhado um papel fundamental na formação do governo Bolsonaro. Os quase 100 deputados da Bancada da Bíblia preocupam-se principalmente com temas de ordem moral: combatem ferozmente a união gay, a legislação do aborto, a ideologia de gênero, pretendendo oficializar ainda a união de homem e mulher como o único núcleo familiar reconhecido como tal.
Poderosos, conseguiram detonar a candidatura do excelente Mozart Neves para o Ministério da Educação “por não achar-se suficientemente afinado com os preceitos teológicos da bancada”. Além do mais, impuseram e abençoaram a nomeação do obscuro filósofo colombiano Ricardo Vélez Rodrigues, içado diretamente da Idade Média para o Ministério da Educação, bem como o excêntrico diplomata Ernesto Araújo para o Ministério das Relações Exteriores, e que em seus devaneios místicos, enxerga um Deus no presidente americano Donald Trump, vendo nele “o único que pode salvar o Ocidente”.
Nada contra os colombianos, mas posso imaginar que, se Lula ou Dilma tivessem tido a funesta ideia de alocar um estrangeiro em nosso MEC, o morro de Bateas entraria em erupção vulcânica, a Estátua da Liberdade viraria pó em segundos e os hospitais e postos de saúde da cidade estariam entupidos de brusquenses em estado de chilique profundo.
A voracidade evangélica poderia ser parcialmente explicada pelo beneplácito de Bolsonaro, recentemente convertido ao Pentecostalismo numa cerimônia que culminou com um batismo no rio Jordão.
Não custa lembrar que a nossa Carta Magna nos garante um estado laico, com liberdade para todas as religiões, sem favorecer ou privilegiar nenhuma. Misturar política com religião não resulta numa boa receita e o Irã é um bom exemplo.
Definitivamente, o nosso futuro Ministro da Educação não se encontra sintonizado com os problemas pedagógicos do Brasil atual. Seu objetivo primordial é a instalação da escola sem ideologia, pois enxerga em cada professor um agente de Fidel Castro a bombardear os indefesos alunos com aquele maldito “marxismo cultural”, supostamente causador de todos os males no mundo contemporâneo. Em seu blog “Roteiro MEC”, aborda inúmeros assuntos, menos o que realmente interessa: a preparação adequada do professor, um currículo claro e definido do ensino, material didático de apoio de qualidade e um monitoramento constante do aprendizado.
Não tenho dúvidas de que, em breve, Adão e Eva voltarão a ocupar espaço no currículo escolar (os pentecostais rejeitam a Teoria da Evolução), bem como a arca de Noé e a teoria de que a Terra é plana.
Pelo que se observa, o governo Bolsonaro sofrerá uma forte influência nacionalista dos militares e e uma abordagem moralista do fundamentalismo pentecostal. Espera-se que o futuro Ministro da Justiça Sergio Moro esteja atento aos preceitos constitucionais para evitar uma eventual descambada para um regime de exceção.
Caberá também a Bolsonaro manter em seus limites os “salientes” de seu grupo político, à frente de todos o vice-presidente eleito Hamilton Mourão. Ambicioso, culto, falante e vaidoso, movimenta-se mundo afora como se fosse ele o presidente eleito, e não Bolsonaro. Tem todo o potencial para tornar-se o Michel Temer do presidente eleito.
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