Jair, Neymar e a cadeirinha

Tempo de leitura: 3 min

em 23/11/2022

Jair, Neymar e a cadeirinha

Ultimamente ando muito preocupado comigo mesmo. O motivo, felizmente, é trivial, mas nem por isso menos preocupante: a procura de pautas para minha coluna tem-me conduzido com demasiada frequência à figura de Bolsonaro, nosso controvertido presidente, insuperável baú de preciosidades majoritariamente polêmicas, que fazem a festa dos profissionais que cobrem jornalisticamente o cotidiano político da capital federal.

Desalentador seria descobrir-me prisioneiro de uma “obsessão pelo “mito”,,similar à que liga os petistas a Lula e os bolsonaristas ao capitão, mas como inspiração temática, obviamente.

Adoraria discorrer sobre assuntos palpitantes em nossa cidade, que infelizmente são raros, praticamente inexistem. O último evento a merecer ampla cobertura da mídia local foi a vistoria da rachadura no paredão da Beira Rio, realizada pelo alcaide e comitiva. Acontecimento que, a meu ver, dispensa comentários e uma análise mais profunda.

Enquanto isso, nosso presidente continua fonte inesgotável de decisões controversas, a maioria na contramão do “Zeitgeist”, do espírito e valores vigentes no pós-modernismo do século XXI.

Após seis meses no poder, Bolsonaro ainda não conseguiu convencer-me no seu papel de presidente da República de todos os brasileiros, pois continua comportando-se como candidato, faltando-lhe, a meu ver, o espírito pacificador, a inteligência política, a cultura, a sensatez, o equilíbrio emocional, a ponderação e a postura para o cargo máximo que as urnas lhe conferiram.

Não constitui segredo para ninguém que o presidente governa por impulsos, faz projetos de lei e assina decretos ignorando pesquisas, estudos científicos e não poucas vezes a opinião pública.

O que aparentemente influencia as suas decisões é o seu messianismo evangelizador e as injeções intravenosas da ideologia populista da extrema-direita, administradas diariamente por sua prole e pelo guru da família, o ideólogo Olavo de Carvalho.

Ultimamente, Bolsonaro tem produzido algumas medidas que tem preocupado significativas camadas da população, excluindo-se obviamente o seu séquito de fiéis seguidores, que continua considerando um pum presidencial uma lufada de Chanel número 5.

Bolsonaro anda atirando para todos os lados. O seu apoio irrestrito a Neymar, protagonista de um bizarro colóquio erótico em Paris, a súbita declaração de apoio à criação do Peso-Real, moeda única para o Brasil e Argentina (Guedes ignorava o assunto) e o seu recente pacote para o trânsito mostram uma incapacidade de pinçar o prioritário, o que realmente importa, num momento em que o país está virtualmente falido e as reformas cruciais para a nossa sobrevivência caminham a passos de tartaruga, clamando por acirradas negociações políticas com o Congresso.

Encaro seu pacote de medidas para o trânsito com reservas, pois ao invés de disciplinar, facilita a atuação dos maus motoristas. Definitivamente, não representa uma política voltada à segurança da população, a semelhança do recém editado pacote armamentista, que não passa de uma simples transferência de responsabilidade do governo para o cidadão comum que, de trabuco na cintura, deverá tratar de defender-se por conta própria.

As extremamente tumultuadas relações do governo com o Meio Ambiente têm estressado brasileiros e colocado em estado de alerta as instituições internacionais ligadas à preservação da natureza.

Ricardo Salles, ministro da pasta, tem executado com fidelidade canina e disciplina espartana a filosofia ambiental (ou sua ausência) de Bolsonaro, numa política de confronto com todas as instituições responsáveis pela política de preservação ambiental, com evidentes tentativas de desmanchar o Código Florestal vigente, afrouxar as regras do desmatamento e suas multas e refigurar os territórios indígenas, cobiçados pelos poderosos agropecuaristas.

Maio último revelou-se um campeão de desmatamento: 30% superior a maio de 2018, o que equivale ao desmatamento de dois campos de futebol por minuto.

Salles protagoniza no momento uma crise com Noruega e Alemanha, que financiam o Fundo Amazônia criado para preservar as matas nativas (R$ 3 bilhões em 10 anos). Salles manifestou a intenção de utilizar o dinheiro do fundo para outros fins o que gerou a ameaça dos dois países de cortar o financiamento. Mais turbulências à vista.

Concordo com o presidente quando afirma que “os tempos estão difíceis”. Para colaborar, sugiro que todos os brusquenses acendam uma vela na gruta da Azambuja para que tudo termine bem, pois a esta altura, sem Bolsonaro, seria muito pior.

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