O inesperado retorno, ainda que temporário do ex-presidente Lula ao cenário político nacional foi, certamente, o assunto impactante da semana que passou.
O “frisson” foi generalizado, a reação sempre diferente, dependendo da orientação política partidária de quem recebia a nova: para os petistas e simpatizantes, finalmente fazia-se justiça, enquanto que para bolsonaristas, tudo se resumiu numa mutreta do STF para tirar o lider das esquerdas do xilindró.
É importante observar que a liberdade de Lula é provisória, havendo o STF solicitado ao Congresso estudo que viabilize mudança na Carta Magna que permita a prisão após condenação em segunda instância. Vale a pena recordar, outrossim, que o ex-presidente continua inelegível, condenado que foi pela lei da Ficha Limpa.
A volta do carismático líder às cena decididamente modificará a retórica política nacional. fazendo dele o principal articulador político anti-Bolsonaro de plantão.
Num primeiro momento deverá preocupar-se com a reorganização do PT, ainda nocauteado pela derrota eleitoral de 2018 e desesperadamente à procura de um líder que consiga divisar uma luzinha no final do túnel. Em seguida poderá avaliar a formação de uma coligação ampla de esquerda para fazer frente ao crescente autoritarismo dos ocupantes do Planalto.
Vejo o retorno de Lula ao cenário nacional como um saudável exercício da democracia, sempre calcada no respeito da diversidade de opiniões.
Lula volta num momento favorável do governo Bolsonaro, que começa a colher os frutos de seu primeiro ano de governo: com a nova Previdência já em vigor, outros projetos reformistas já tramitando pelos meandros do congresso, a economia dando tímidos sinais de recuperação, e o que é mais importante, a população começando a acreditar novamente na espiral que a reconduziria ao patamar da prosperidade.
Para tornar-se palatável para consumo geral, o PT teria que reinventar-se, pois o partido que conhecemos, desgastado pela pilantragem e corrupção, há muito não conta mais com a aprovação da maioria da população.
O tom que Lula virá a adotar definirá o nível da contenda: o cão raivoso e vingativo da ala radical de Gleisi Hoffmann (Bolsonaro adoraria) espantaria importantes segmentos que, mesmo que decepcionados com os radicalismos e disparates do clã de Brasilia, veria com horror a volta do PT ao poder.
Uma retórica tipo “Lula paz e amor”, moderada e saudavelmente progressista, poderia atrair o centro, atualmente órfão de pai e mãe, vítima da polarização que tomou conta do país.
A partir de agora, Bolsonaro terá que enfrentar um inimigo de carne e osso, atento e motivado , e se não quiser levar pancadas diariamente, terá que alterar algumas coisas em seu “modus operandi”: deixar quinquilharias e briguinhas para o segundo escalão para ocupar-se prioritariamente com assuntos que realmente interessam a nação; ouvir e cercar-se de pessoas experientes e de bom senso, preferencialmente fora do círculo familiar e ideológico; aprender que ligar os neurônios antes de emitir opiniões faz parte da bagagem de um presidente da República que se preze.
Também seria útil para a sua imagem mostrar ao país que quem manda nos filhos é Jair e não o inverso. O alinhamento automático aos EUA, a política ambiental meia boca, a inoperante política educacional, o desprezo pela cultura e a sempre maior influência da religião na política de um país laico também poderão ser alvos preferenciais de uma oposição ativa.
Espera-se que os contendores não apelem à ignorância, patrocinando um embate de vida ou morte, esquerda contra direita que, além de fazer muito mal ao país, o brindaria, eventualmente com um AI-5, sonhado por muitos em Brasília e, infelizmente, não somente lá.
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