Quem apostou na hipótese de que Jair Bolsonaro aproveitaria a esplêndida oportunidade da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas para revelar-se um estadista, desvencilhar-se de sua fantasia de lobo mau e dissipar a imagem arranhada de nosso país, fruto da controvertida política ambiental de seu governo, deu com os burros na água: mostrou-se tosco e belicoso como de hábito, num discurso recheado de agressões, equívocos e fantasias ideológicas, onde invariavelmente comparece como “Salvador da Pátria” de uma iminente Revolução Socialista, do Petismo, do marxismo cultural, da ideologia de gênero, de Cuba, da TV Globo, e claro, da imprensa mentirosa, todos unidos para destruir os valores tradicionais da familia brasileira.
A sua fala acabou revelando-se um típico discurso de palanque eleitoral, muito mais dirigido para sua clientela interna do que à comunidade internacional ali reunida, e foi recebido com frieza.
O seu alinhamento automático com a política errática de Trump, aliado à sua controvertida política ambiental, poderão contribuir para um crescente isolamento político no cenário internacional com reflexos negativos em nossa carteira de comércio exterior.
O presidente Trump adorou a performance de seu colega brasileiro, derretendo-se em elogios, reforçados pelo deputado federal do PSL, Philippe de Orleans e Bragança, que classificou a mensagem de “histórica, que tem como base Deus, Pátria e Família, novidades para ONU, que luta contra esses conceitos”. Verdadeiramente revolucionária a tese deste deputado da base governista!
O Brasil vive mergulhado numa crise profunda: economia estagnada, desemprego estacionado em 13 milhões de trabalhadores e um país ideologicamente polarizado, onde o diálogo inexiste e a intolerância com a diversidade vai minando a esperança por um Brasil mais pragmático, tolerante e justo.
Torna-se fundamental que o governo realize, que o desemprego, a saúde e a educação clamam por soluções urgentes, e que neste momento não existe espaço para elucubrações ideológicas que, ao invés de nos conduzir ao consenso, fortalecem sempre mais a divisão do país.
O nosso ambiente político também continua envenenado, turvo e instável, o que acaba afastando os investidores internacionais e atemorizando o empresariado local.
As hostes bolsonaristas continuam fervilhando, dispostas a criar uma nova sociedade conservadora, calcada majoritariamente nas teses obscurantistas de Olavo de Carvalho, bruxo-guru do clã presidencial que, dos EUA, alimenta a veia jugular dos Bolsonaro e adeptos com as mais reacionárias teorias da extrema-direita ideológica.
Preocupado com o derretimento da popularidade presidencial, o guru acaba de decretar a mobilização total dos bolsonaristas, que “independentemente de pautas, devem sair em defesa do “mito”, aplaudindo, incentivando e enaltecendo, a fim de blindá-lo das esquerdas e da imprensa mentirosa”.
Inicia-se, destarte, um novo capítulo no bolsonarismo local: uma militância oficializada e um culto à personalidade, ambas componentes básicas do movimento chavista venezuelano.
Os Olavistas mais radicais do movimento já decidiram: promoverão a “Revolução Conservadora” em nosso país, colocando quadros ideologicamente alinhados nas posições chave do governo (Coaf, Receita, PGR, Polícia Federal), e quando isto não for possível, contingenciarão ou cortarão o orçamento, como já se fez nas universidades, nos jornais, no cinema e nas Ongs ambientalistas. Seria o sufoco de toda e qualquer voz discordante e possivelmente o suspiro derradeiro da Democracia em nosso país.
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