Não temos mais dúvidas de que nos encontramos à beira de uma perigosa crise institucional. As causas são inúmeras, mas poder-se-ia destacar a insegurança momentânea do Bolsonarismo, que vê os seus abusos autoritários confrontados com absoluta firmeza e determinação pelas instituições democráticas, bem como por sua inabilidade total em digerir e administrar a visível queda de popularidade do mito e as sempre mais frequentes demonstrações de rua contra a sua administração.
Desde que assumiu o poder em janeiro de 2019, Bolsonaro encampou como estratégia a desmoralização das instituições e a desqualificação dos valores democráticos, no que foi fielmente imitado por seus fiéis seguidores, os mesmos que agora, momentaneamente atemorizados com a deterioração em curso, voltam-se com inusitada violência e furor contra o “Congresso corrupto” e o “Supremo Tribunal Federal Comunista”, segundo eles culpados pela dificuldade de materialização do sonho do mito: a construção de um “Novo Brasil”, calcado nos valores de Olavo de Carvalho, da turma fundamentalista de Edir Macedo, dos militaristas e agora, do Centrão, solidamente instalado no núcleo do poder.
Na elaboração de seus projetos de lei, Bolsonaro ignora, via de regra, a Constituição, o que faz que grande parte seja devolvida pelo Legislativo por sua inconstitucionalidade, o que acaba sendo vendido à população como boicote e oposição ideológica do Congresso ao Executivo. No momento, o presidente tem motivos de sobra para estar de cabeça quente pois enfrenta um rosário de inquéritos, dos quais dois se destacam sobremaneira, pelos efeitos que seus desdobramentos poderão exercer sobre a política no futuro próximo.
No Tribunal Superior Eleitoral corre o inquérito que visa esclarecer se houve financiamentos ilegais em sua campanha presidencial em 2019. Se comprovados, poderá perder o seu cargo, bem como seu vice, Hamilton Mourão. Sobre o assunto, Bolsonaro emitiu um comunicado afirmando que “as Forças Armadas não aceitarão um julgamento político para destituir um presidente democraticamente eleito”.
Gilmar Mendes, juiz do STF, retrucou que “as Forças Armadas não são milícia do presidente”. O inquérito das Fake News, conduzido pelo Supremo Tribunal Federal, também causa fortes enxaquecas no presidente, pois pode atingir sua família, amigos e aliados.
O STF quer descobrir quem produz, distribui e financia a abjeta indústria do ódio das Fake News que com mentiras, calúnias e distorções visa destruir as instituições democráticas, seus mentores e familiares, bem como as reputações de figuras públicas e adversários do governo.
Nos últimos dias vimo-nos surpreendidos por uma infinidade de atos antidemocráticos, todos oriundos das hostes bolsonaristas: invasão de hospitais para filmar os leitos das UTIs, bombardeio com rojões e fogos de artifício da sede do STF em Brasilia, ocupação da Esplanada dos Ministérios pelo grupo bolsonarista, radical e armado “300 do Brasil” e assim por diante. Sem dúvida, nos encontramos num fio de navalha e o cientista político Edward Cyril Lynch afirma que “se o Congresso e o Supremo Tribunal cederem à intimidação da família Bolsonaro, renunciando ao livre exercício de suas prerrogativas constitucionais, o golpe estará consumado, e será o primeiro de vários outros”. Prognóstico alentador!
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