Desde a sua posse em janeiro de 2019, o governo Bolsonaro tem manifestado repetidamente uma inegável desconsideração, quando não pouco caso, com a vasta população indígena do país. O próprio presidente brindou-nos recentemente com a “pérola” de que “o índio está evoluindo e se tornando cada vez mais um ser humano igual a nós”, afirmação que deve ter arrepiado a cabeleira de antropólogos, indianistas e de todos aqueles que se preocupam com a preservação do meio ambiente em nosso país.
A rigor, as palavras presidenciais poderiam significar que o índio brasileiro se encontra num processo de evolução Darwiniana, que transforma um mentecapto num respeitável cidadão urbano do século XXI.
Em verdade, Bolsonaro encontra-se sob pressão permanente de dois grupos fundamentais para a sustentação política de seu governo: a turma do agronegócio e os evangélicos. Ambos cobiçam as terras indígenas, mas por objetivos diferentes: a bancada do agronegócio quer pastos para o gado e terra para plantar soja enquanto os evangélicos procuram espaço para o proselitismo religioso.
Felizmente, a voracidade destes grupos tem-se mantido sob controle, em função de nossa Carta Magna que determina que “a União deve reconhecer e proteger a organização social e costumes dos índios, além do direito sobre as terras tradicionalmente ocupadas, que lhe compete demarcar”.
Ao que tudo indica a inviolabilidade das terras indígenas está dando seus últimos suspiros, pois o “mito” acaba de colocar no papel a legislação que autorizaria grupos econômicos a exploração das terras dos nativos, seja com agricultura, pecuária, mineração, garimpo, extração de petróleo e gás e usinas elétricas, o que a meu ver representa o início do fim da floresta amazônica.
O presidente acaba de se reunir com a bancada ruralista com a recomendação expressa de que iniciem imediatamente o “lobbyismo” junto ao Congresso.
A “ideia fixa” do presidente é “aculturar a população indígena, que deve aprender os benefícios da civilização com missionários, militares, empresários e sociedade em geral”.
De certa forma, repete-se o ano de 1492 quando Cristovão Colombo conquistou os indígenas com espelhos, pentes e colares, enquanto que Bolsonaro, em 2020, vai de celular, selfie e radinho.
Dando continuidade à sua política anti-indigenista, o governo acaba de nomear para a importante missão de coordenador geral dos índios isolados, que habitam os locais mais recônditos da floresta amazônica, o missionário evangélico Ricardo Lopes Dias. Sua nomeação não foi bem recebida pelos índios, que reunidos na aldeia de Pirarucu, no Alto Xingu, emitiram a seguinte declaração: “temos o direito de pensar e viver diferente da sociedade não indígena e temos direito a nossos territórios. Não vamos deixar que esses fundamentalistas religiosos façam conosco o que já fizeram com muitas famílias no passado”.
Conversando com um amigo, ele me disse: “Índios? Não servem para nada, somente para enfeitar cartão postal!” Temo que muitos pensam da mesma maneira.
Deixe um comentário