Nos primeiros dias de outubro a nossa Câmara de Vereadores fez chegar ao poder Executivo um requerimento solicitando eventual adesão de Brusque ao Programa Nacional das Escolas Cívico Militares, projeto de Bolsonaro no campo da Educação e programado para brilhar na vitrine eleitoral de Jair Messias nas eleições presidenciais do próximo ano.
Inspirados pela qualidade das escolas militares, os ministérios da Educação e da Defesa juntaram-se para parir as escolas cívico-militares, cujo objetivo primordial consiste em melhorar o ensino nas escolas públicas.
A inclusão neste restrito círculo de estabelecimentos depende, antes de mais nada, de uma solicitação formal da prefeitura, bem como da exigência de uma escola em situação de vulnerabilidade e com baixo índice de Desenvolvimento (Ideb).
O corpo diretivo de uma escola cívico-militar é formado por uma equipe pedagógica civil, complementada por até 16 militares da reserva, que deverão atuar no apoio à gestão escolar e educacional. As poucas escolas em funcionamento no país (em nosso estado abrigamos menos de 10) tem-se revelado sempre mais militares do que cívicas, possivelmente pelas rígidas regras de conduta impostas, como a prática diária da “ordem unida”, do hasteamento da bandeira, do “Ouviram do Ipiranga”, dos uniformes militares similares aos policiais militares, as boinas, do corte de cabelo padrão e o eventual acompanhamento de um militar até a porta do banheiro.
Pais estressados enxergam na educação castrense a salvação de filhos indisciplinados e rebeldes, ignorando que os fundamentos da educação são ministrados entre as quatro paredes de casa, cabendo à escola, por sua vez, a solidificação dos conceitos trazidos do ambiente familiar.
Não temos dúvida de que as escolas cívico-militares poderão ser determinantes na solidificação de valores como respeito, disciplina e civismo na mente dos jovens, enquanto um sempre maior número de professores civis reclamam da interferência fardada em sua metodologia de ensino, com o objetivo de uma maior militarização escolar, em detrimento de uma educação humanista, democrática e participativa.
Ressalte-se que os militares participantes do programa são regiamente remunerados: normalmente percebem o dobro dos professores, tendo o MEC transferido no ano passado a quantia de 55 milhões ao Ministério da Defesa para pagar os 510 militares cadastrados e participantes do programa.
Recentemente, a administração de uma escola no Rio de Janeiro foi suspensa pelo Secretaria de Educação do Estado, por obrigar os alunos perfilados no pátio a repetir as palavras lidas por um adulto: “muitos querem, mas não podem, nós queremos, e podemos, nós somos nós e o resto é o resto, Brasil acima de tudo e abaixo de Deus”.
Bolsonarismo puro, e o que é pior, a prática do que condenam com veemência em governos anteriores: o ensino ideologizado!
Confesso o meu parco interesse pelas escolas cívico-militares, pois valorizam excessivamente obediência, disciplina, ordem e civismo e deixam anestesiados o espírito crítico, o livre-arbítrio, a iniciativa e a criatividade.
Para alcançar uma qualidade superior em nosso ensino público, devemos investir no aprimoramento intelectual e pedagógico de nossas equipes locais, bem como ministrar uma sólida injeção de fermento Fleischmann nas folhas de pagamento, para manter entusiasmadas as fontes do saber dos brusquenses de amanhã.
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