A busca e apreensão executada hoje contra empresários bolsonaristas significa a criação no ordenamento jurídico brasileiro do "crime de pensamento"
A busca e apreensão executada hoje pela Polícia Federal, contra empresários bolsonaristas, a mando do ministro Alexandre de Moraes, significa a criação informal no ordenamento jurídico brasileiro do “crime de pensamento” — um dos aspectos mais terríveis de 1984, o romance distópico de George Orwell. Trata-se, agora, de controlar também o que as pessoas pensam sobre determinados assuntos.
O que mostram as mensagens de WhatsApp que propiciaram a busca e apreensão? Que uns beócios — beócios ricos, está certo, mas fundamentalmente beócios — preferem um golpe militar à eleição de Lula. Houve um que até pensou em distribuir bônus a funcionários que votassem em Jair Bolsonaro, mas foi desestimulado por outro, que ponderou que aquilo poderia significar compra de votos. Até onde nos é permitido ver, não há conspiração contra a democracia, no sentido de construção de um golpe, com agendas, financiamentos, articulações com a caserna ou algo que o valha. Ao fim e a cabo, as mensagens repetem as mesmas patacoadas de sempre das manifestações bolsonaristas.
O aspecto mais grave em contexto de tamanha gravidade é que as mensagens foram trocadas num grupo privado de WhatsApp. O jornalista do Metrópoles que revelou as conversas fez o seu trabalho ao publicá-las. Mas quando o Poder Judiciário decide entrar na história, com a violência de uma busca e apreensão em cinco estados, aí entra o “crime de pensamento” de George Orwell. A partir de agora, a conclusão é inevitável, nenhum cidadão terá o direito de, até mesmo em conversas com amigos, fustigar a democracia, de falar mal de quem o Supremo Tribunal Federal não quer que se fale mal, de dizer bobagens, de dar vazão aos instintos mais primitivos, de expressar a própria ignorância. Ultrapassamos a fase do “manifestar-se criminoso” e adentramos a do “pensar criminoso”.
Os ministros do STF mais velhos precisam chamar os mais moços para uma conversa. Essa defesa da democracia na base do prendo e arrebento está minando a democracia no que ela tem de mais essencial: o direito de ser cretino, como Luciano Hang (foto).
Fonte: O Antagonista.
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