Bolsonaro defende atos do 7 de setembro e ataca adversários

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em 09/09/2022

Candidato à reeleição rebate críticas de adversários e diz que eles também poderiam participar das festividades do Sete de Setembro. E acusa Lula e a esquerda latino-americana: "Essas pessoas têm alguma moral para falar em democracia?"

Bolsonaro defende atos do 7 de setembro e ataca adversários

Candidato à reeleição, o presidente Jair Bolsonaro (PL) está confiante de que pode vencer a corrida ao Planalto já em 2 de outubro. Prova disso, segundo o chefe do Executivo, são as multidões que arrastou nos atos do 7 de Setembro em Brasília, no Rio de Janeiro e em São Paulo. “Acho que está decidida a eleição no primeiro turno. Não tem explicação para o outro lado ganhar. Não foi apenas aqui, foi no Brasil todo”, afirmou, em entrevista ao programa CB.Poder, parceria entre o Correio e a TV Brasília.

Bolsonaro rebateu críticas de adversários — alguns deles, inclusive, recorreram ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) — de que se apropriou de uma data nacional e da máquina pública para fazer campanha. “Estão me acusando do quê? Estive no 7 de Setembro aqui em Brasília, acabou o desfile, tirei a faixa e fui para dentro do povo. Se qualquer outro candidato quisesse comparecer ali, não tinha problema nenhum. Não foi um ato meu, foi um ato da população”, frisou. Ele explicou um dos trechos mais polêmicos do seu discurso, na Esplanada, em que enalteceu sua virilidade. “A questão do imbrochável é sinal de que eu vou ficar resistindo sempre. Não adianta me atacar”, ressaltou.

O chefe do Executivo disparou críticas aos governos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas de intenção de voto, e disse que seus familiares não podem ser comparados com os do petista, que “ficaram ricos de uma hora para a outra”. “Seus filhos vivem muito bem, inclusive, usufruindo de benesses de estatais. Quer comparar com a minha família? Nós trabalhamos”, afirmou.

O presidente também negou que deflagre crises com o Supremo Tribunal Federal (STF). “Não sou eu que provoco. Estou quieto (…). Tem gente que tem alguma bronca ideológica comigo”, sustentou. Ele voltou a enfatizar a necessidade de ser jogar “dentro das quatro linhas da Constituição”. “Ser democrata não é assinar uma cartinha ao lado de pessoas que adoram regimes totalitários. Ser democrata é você respeitar todos os artigos da Constituição.”

O postulante à reeleição negou o rótulo de misógino e listou ações que sua gestão fez em prol das mulheres, entre as quais, o combate à violência doméstica. “Foi o governo que mais prendeu machões no Brasil. Agressor de mulher não ficou escondido. Fomos para cima dele.” Ele prometeu manter o Auxílio Brasil em R$ 600 e enumerou os feitos na área econômica. “O Brasil é o único país do mundo, pelo que eu sei, que está com deflação e não tem problema de desabastecimento, como outros países começam a ter.” A seguir, os principais trechos da entrevista, feita pelos jornalistas Denise Rothenburg, Arthur Luiz, Washington Rodrigues e Ricardo Carlini, com colaboração de Victor Correia, Mariana Albuquerque* e Raphael Pati*

Qual é o balanço do Sete de Setembro?

Tenho falado, há algum tempo, que temos um presidente da República e um governo que acredita em Deus, respeita seus policiais e militares, defende a família tradicional e deve lealdade ao povo. Pelo que vejo, o outro lado nunca se preocupou com o povo, a não ser em época de eleições. E passamos a ter, na verdade, um governo diferente dos demais, que, por exemplo, encara o combate à corrupção não como uma virtude, mas como uma obrigação acima de tudo. E fiz um apelo, sim, pela última vez, porque o povo foi à rua várias vezes. Não houve convocação da minha parte, nem convite. E o que eles defendiam ali — liberdade, respeito à Constituição, democracia, entre outras coisas —, não era bem compreendido em Brasília. Entrava por um ouvido, saía pelo outro. O que tenho falado? Que todos nós temos de jogar dentro das quatro linhas da Constituição. Ser democrata não é assinar uma cartinha ao lado de pessoas que adoram regimes totalitários. Ser democrata é você respeitar todos os artigos da Constituição. E, ao longo desses três anos e meio, a população, junto comigo, viu um presidente diferente dos demais.

O que a população viu?

Viu um presidente que teve o capricho e a coragem de escolher um ministério técnico para estar ao seu lado. Geralmente, a escolha de ministro, no passado, era em função de interesses político-partidários. Só podia terminar em corrupção. Fizemos diferente. Até costumo dizer: me aponte alguém do nível do Tarcísio de Freitas na Infraestrutura; da Tereza Cristina na Agricultura; do Marcos Pontes na Tecnologia; o Onyx (Lorenzoni), meu mestre coringa lá dentro; do Rogério Marinho no Desenvolvimento Regional; do Paulo Guedes na Economia; do Gilson Machado no Turismo; atualmente do João Roma na Cidadania. Então, você começa a analisar e vê que tem algo diferente.

E como era antes?

Era comum ver, há poucos anos: tal partido perdeu o ministério, tal outro partido ganhou outro ministério. E existia dentro da Câmara a tal da lista da fidelidade, ou seja, acabava uma votação importante, alguém levava uma lista para dentro do líder partidário. Ele olhava na lista: “Olha, o meu partido foi 90% fiel ao governo, o outro só foi 60%, por que eu tenho dois ministérios e o outro tem dois? Vou querer um ministério daquele partido”. Isso levava ao quê? A uma onda de corrupção. A gente comprova isso com as estatais, que, há poucos anos, eram deficitárias ou davam pequenos lucros. Agora, estão dando lucro, até demais. Tenho conversado com Paulo Guedes. Queremos lucro, sim, mas está demais. Vamos diminuir impostos. Eles vêm diminuindo impostos, e temos aumentado a arrecadação. Então, é um governo diferente.

O senhor acompanha de perto o trabalho dos ministros?

Não tenho como saber de tudo o que acontece em 23 ministérios. Eles são que entram em campo. Esse é o meu time, quem disputa por quatro anos como conduzir as políticas de interesse da população. E quem passou o que eu passei? Dois anos de pandemia; uma seca nunca vista em décadas, no ano passado; e uma guerra lá fora, que mexeu na economia do mundo todo. Eu talvez tenha sido o único chefe de Estado no mundo que falou que essa história do “fica em casa e a economia a gente vê depois” está errada. O povo tem de trabalhar. Ninguém vai agarrar a guerra dentro de uma trincheira ou embaixo da cama dentro de casa.

Mas ficar em casa era uma forma de tentar evitar que a doença se alastrasse, e não tínhamos vacina ainda. Que avaliação faz da pandemia? Acha que cometeu algum erro, ou qual foi o seu maior acerto?

Nós levantamos, em um primeiro momento, 38 milhões de pessoas que viviam da informalidade. Essas pessoas têm de ficar quanto tempo dentro de casa sem ganhar nada? Pouquíssimos dias. Iriam às ruas e iam fazer coisas que não queriam. Teríamos, no mínimo, saques a supermercados. Estaríamos mergulhando o Brasil em um caos social, e socorri dois ministros. Primeiro, foi na Defesa. Temos efetivo para a garantia da lei e da ordem? Não. De imediato? Não. O que fazer? Fomos atrás dos ministros Paulo Guedes, criamos o Auxílio Emergencial em 20 dias e começamos a pagar, não para 38 milhões de pessoas, mas para 68 milhões, o que evitou que a economia colapsasse, evitou que essas pessoas fossem às ruas. Por mês, a gente se endividava em R$ 50 bilhões. Não tínhamos como garantir tudo isso, e eu batendo de frente com a maioria dos governadores: tem de trabalhar. O que já dizia naquela época? Que as pessoas saudáveis, os mais jovens, aquele vírus não influenciava em nada. Por que fechar? Por que deixar o cara com 20 anos, 30 anos de idade dentro de casa?

Houve jovens que morreram também, presidente.

Quem nasceu primeiro? O ovo ou a galinha? Se você ficar em casa ‘ad aeternum’, o vírus não vai embora. Atualmente temos aí em torno de 100 pessoas que morrem de covid por dia no Brasil. Pergunto: essas pessoas foram vacinadas, ou não?

A maioria foi.

E por que está morrendo de covid?

Aí, os médicos têm de explicar. É uma doença nova, que está sendo estudada.

Por que foi tolhido o direito dos médicos de exercerem a liberdade deles? O médico não tem o direito, tem a obrigação de tentar salvar a sua vida. O tratamento precoce virou crime no mundo todo, e no Brasil não foi diferente. Por que eu apoiei? Por causa disso: eu ligava para países do mundo todo. Como é que na África Subsaariana, por exemplo, está morrendo menos gente de covid e tem o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) lá embaixo? Por coincidência?

Tem que estudar, presidente. Se não estudar, não tem jeito.

Mas eu estudei. Por coincidência, essas pessoas tomam tal medicamento, que é para combater a cegueira dos rios (a oncocercose, doença parasitária crônica). Por que nos quartéis, na Força do Exército, na Amazônia, não morria militar de covid? Porque eles usavam um medicamento que era para combater a malária, que, por coincidência, também ajudava a combater os efeitos do vírus. Mas, no Brasil, o médico perdeu sua autonomia. Os médicos foram ameaçados de cadeia. O (senador) Omar Aziz apresentou um projeto de lei dando três anos de cadeia ao médico que, porventura, indicasse qualquer remédio não previsto no tratamento em bula. Divulguei o projeto do Omar Aziz e, no mesmo dia, ele retirou o projeto.

Ele percebeu que o projeto estava errado.

Percebeu depois da minha tuitada. Ele queria três anos de cadeia? Queriam prender a vovó por dar um chá de boldo para os filhos. Virou uma coisa que se politizou. Quem começou a tratar de vírus no Brasil, com todo respeito, foi uma grande parte da imprensa e dos políticos. Eu poderia ter acabado, por exemplo, com a CPI da Covid logo no começo, se eu acolhesse uma emenda do Omar Aziz e do Renildo Calheiros, irmão do Renan, porque eles queriam que qualquer prefeito ou médico comprassem vacina em qualquer lugar do mundo sem certificação da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) e sem licitação. Imagine a festa que seria.

Como fará para manter o Auxílio Brasil em R$ 600, uma vez que o Orçamento de 2023 não tem esse valor assegurado?

Uma coisa é você entrevistar um candidato a presidente, a outra, um candidato que é presidente. De acordo com o que vou falar aqui, o dólar pode disparar, a Bolsa pode cair. O Bolsa Família valia, em média, R$ 190. Havia famílias recebendo R$ 80 por mês. Com a questão da covid, da guerra, da inflação dos alimentos, isso passou a ser nada. Brigamos, no ano passado, para passar a R$ 400 e fomos atrás da negociação dos precatórios. Tudo dentro da responsabilidade fiscal do Paulo Guedes. O grande problema nosso foi o PT. O PT votou contra a renegociação dos precatórios, para que continuasse o Bolsa Família com o valor lá embaixo. Conseguimos, com os partidos de centro — que pejorativamente são chamados de Centrão —, aprovar R$ 400. No corrente ano, viu-se que essa importância ainda não era suficiente. Fomos para um extra em uma PEC (Proposta de emenda à Constituição) emergencial. Passamos um extra de R$ 200 até o fim do ano. Então, no momento, até dezembro, são R$ 400 mais R$ 200.

E em 2023?

Conversei com o Paulo Guedes para buscar alternativa para (o valor) ser definitivo a partir do ano que vem. Ele falou que vai ser definitivo. Conversei, hoje (ontem), com o Arthur Lira (presidente da Câmara). Ele falou: “No que depender da Câmara, vamos buscar alternativas para isso”. E o Paulo Guedes quer taxar uma parte daquelas pessoas que ganham acima de R$ 400 mil por mês. E taxar o que excede R$ 400 mil, chamados dividendos, que não se paga nada (de imposto), pagar 15%. O mundo todo paga isso, menos nós aqui. Com mais esses 15% dos dividendos para quem ganha acima de R$ 400 mil, dá para pagar os R$ 600 de forma definitiva e, também, corrigir-se a tabela do Imposto de Renda. Está explicado de onde vem o recurso: a palavra do Paulo Guedes, a minha palavra e a do Arthur Lira. Também a dele de lutar lá dentro, que tem de passar pelo Parlamento. Vai passar, tenho certeza disso, porque ninguém vai votar contra os mais necessitados, e hoje chegamos à casa de 20 milhões de pessoas no Auxílio Brasil que ganham R$ 600 por mês.

Como avalia a reação de adversários, que recorreram à Justiça por causa dos atos do Sete de Setembro?

O que é a política? É estar bem com o povo. Estão me acusando do quê? Estive no Sete de Setembro aqui em Brasília. Acabou o desfile, tirei a faixa e fui para dentro do povo. Olha, se qualquer outro candidato quisesse comparecer ali, não tinha problema nenhum. Não foi um ato meu, foi um ato da população, população à qual devemos lealdade. Podia qualquer outro ter comparecido, por que não foram? Nem no seu respectivo estado? Pergunta para essas candidatas, uns homens também, pelo Brasil, por que não foram ao respectivo estado? Não foram. Ou seja, ignoraram a força do povo. A força não é do candidato, é do povo. Quem diz que eu tenho que estar lá, ou não, não é ninguém, a não ser a vontade popular. Sempre estive no meio do povo. Mesmo durante momentos difíceis, como da pandemia.

A revista The Economist fala que o senhor, ganhando ou perdendo, representa uma ameaça à democracia no Brasil. Como avalia essa questão?

O Lula assinou a carta pela democracia, mas vive de beijos com o (Nicolás) Maduro na Venezuela. Apoia a ditadura do Daniel Ortega lá na Nicarágua. Ortega fechou rádios e televisões católicas, prendeu padres, expulsou freiras, e o Lula disse que a gente não deve se meter na política externa. É um cara que, na cadeia, recebeu a visita do (Alberto) Fernández, da Argentina. Olha para onde está indo a nossa Argentina. É um homem que fez campanha para (Gustavo) Petro na Colômbia — integrante do M19, um grupo terrorista. Quais foram as primeiras medidas do presidente da Colômbia? Liberar as drogas, soltar traficantes, abrir a fronteira com a Venezuela. Anteontem, cinco policiais foram executados na Colômbia. Começou o “nós contra eles”. Então, essas pessoas têm alguma moral para falar em democracia? Para falar que eu quero dar um golpe? Me aponte uma palavra minha, um ato meu para tentar fechar a imprensa, que o Lula falou várias vezes. Alguém tem dúvida de que o homem forte do Lula no futuro nas Comunicações seria Franklin Martins, que foi o idealizador daquele Marco Civil da Internet, lá atrás, para ser regulamentada por decreto? Aprova-se uma lei e, depois, vai ter um artigo que fala da regulamentação por decreto, em que entra o vale-tudo. Inclusive, quem é que tem desmonetizado páginas de pessoas por aí? Quem é que tem prendido deputado federal? Quem fez jornalista se exilar nos Estados Unidos? Quem está fechando e derrubando páginas de pessoas da direita? Que a esquerda não tem problema. Sou eu? Agora, quem, o tempo todo, defende a liberdade no Brasil? Sou eu.

Não é um contrassenso o senhor defender a liberdade, mas dizer, como fez quarta-feira, no Palácio da Alvorada, que 1964 poderia se repetir?

Passamos por momentos difíceis no Brasil. Falei: 1822, 1935, 1964, 2016, 2018 e, agora, 2022. Quem quer chegar ao poder, quem tentou chegar pelas armas ao poder, no passado, não foi o pessoal mais da direita. Foram, exatamente, esses que estiveram sempre perseguindo o mesmo ideal: a luta pelo poder. E onde essa esquerda chegou, a desgraça chegou. Pega Cuba. Lula vivia numa boa com o Fidel Castro. Depois, vê a Venezuela, o país mais rico do mundo em petróleo. O povo venezuelano vive em uma situação de pobreza pior do que o Haiti. Você vai para a Argentina: 40% da população já está na linha da pobreza. Há poucas décadas, eles tinham o PIB (Produto Interno Bruto) maior do que o nosso. Veja para onde está indo o Chile. Se bem que o Chile deu uma segurada agora. Não valeu a Constituição que aquele cidadão queria fazer lá. Entre outras coisas, acabar com os carabineiros. Foi o que a esquerda sempre falou aqui: desmilitarizar a polícia. Sem Polícia Militar, o Brasil vira um caos. Sempre defendi a Polícia Militar, inclusive, buscando a eles o excludente de ilicitude.

A possível volta da esquerda é um retrocesso?

Alguém tem dúvida de que, se a esquerda voltar ao poder, vai voltar para valer? Olha o que o Lula fala: regulamentar a mídia, valorizar o MST, botar padres e pastores nos seus “devidos lugares”. Voltar a emprestar dinheiro do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para as ditaduras. Que eles querem? Acabar com as escolas cívico-militares, acabar com os colégios militares. O que eles querem? O bem da população?

O senhor não esteve na solenidade do Bicentenário da Independência no Congresso. Por quê?

Eu queria, mas tinha muita gente para atender no cercadinho hoje (ontem), tinha um grupo enorme de crianças, aquela garotada do homeschooling. E o 7 de Setembro foi ontem (quarta-feira). Então, deixei a agenda política de fora e fui atender. Tinha umas 300 pessoas no cercadinho, foi um recorde hoje. Um garoto — lógico, foi orientado pela professora — falou que tem uma família do Rio Grande do Sul que está sendo pressionada pelo Ministério Público e está na iminência de entregar o filho, porque não está estudando na escola. Se tivesse uma escola de excelência no Brasil, você poderia discutir esse assunto. Mas tirar uma criança de 8, 9 e 10 anos de idade do convívio familiar para botar em uma casa de atendimento de criança, para ela frequentar uma escola pública, que, quando você faz a prova do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), aquela prova internacional de três em três anos…

… Que mostra que o Brasil está muito mal qualificado…

A vantagem é que não pode piorar. Parabéns, PT. O Brasil não pode piorar mais, porque estamos em últimos lugares. São 70 países. Você pega as disciplinas, que são português, ciência e matemática, somos sexagésima e alguma coisa. No somatório final, não dá o último lugar. É a política do tal do Paulo Freire: liberdade total para criança em sala de aula, você não pode tomar o telefone celular do aluno. Já tivemos, no passado, que não se pode corrigir prova com caneta vermelha, que a criança fica traumatizada.

Qual é o seu projeto para a educação?

O homeschooling não é uma solução para todo o Brasil. A gente sabe que há muitas crianças que não têm o que comer em casa, quanto mais pais e mães que tenham disponibilidade para dar formação a essas crianças, em termos de português, matemática. Você soma a isso dois anos da garotada em casa. E eu falei, lá atrás, apanhei muito, porque falei que a molecada tinha de ir para a sala de aula, e dei o exemplo. Falaram que iam fechar as academias militares, Agulhas Negras e a Escola Naval. E eu falei: não fecha. E se alguém morrer? Bota a culpa em mim. E algum cadete faleceu? O jovem que faleceu, ele tinha já alguma comorbidade, algum problema sério de saúde, ou, acredite se quiser, muitas vezes, se pegava um jovem que sofreu um acidente e se botava num leito de UTI porque o respectivo hospital ganhava em dobro o dinheiro do governo para aquela UTI, em média R$ 1 mil por dia. A UTI, R$ 2 mil. Quando aquele jovem morria, como ele estava na UTI, entrava lá. Você ouviu, durante a pandemia, pedir UTI infantil no Brasil? Muito pelo contrário. UTIs infantis foram transformadas para UTI de adultos.

E as vacinas?

É bom falar em vacinas. Muita gente me recomenda: “Não fala em vacina”. Em 2020, não tinha vacina. E quando nós vimos o contrato da Pfizer, duas coisas que eu falei e, depois, calaram as vozes por aí. Primeiro: a Pfizer não se responsabilizava por efeito colateral. E o segundo, mais grave: vou perguntar para a Pfizer quais possíveis efeitos colaterais. Ela respondia: “Não sabemos. Saberemos em 2023, 24 ou 25”. Quando se começou a vacinar a criança, o que a Pfizer recomendou? E a Anvisa também? Dizia ali, na recomendação da Pfizer, da Anvisa: vacina o teu filho de 5 a 11 anos e fique atenta se ele, por acaso, ter palpitação, falta de ar ou outra crise respiratória. Daí, te perguntava: se tiver palpitação, o que eu peço para o senhor João, uma pessoa humilde, que mora numa periferia, fazer? Vai procurar o médico. O médico vai recomendar o quê para uma criança com palpitação, com falta de ar? Eu tinha muita interrogação. E não temos notícia. Raríssimas crianças perderam suas vidas. E, assim mesmo, não temos um estudo se as crianças já sofriam com a comorbidade ou não. Alguém tem dúvida de que todas as crianças pegaram covid no Brasil? Quem tem dúvida disso? Pegaram. E como se safaram? Nem souberam que elas pegaram. Inclusive, o meu governo comprou vacinas para todo mundo. A primeira vacina nasceu em dezembro de 2020. O Brasil, em janeiro, começou a vacinar. Não foi uma vacinação em massa porque não tinha vacina no mundo. E os países que fabricavam, primeiro fabricavam para os seus, depois sobrou para nós. Fizemos bons contratos e aplicamos a vacina em quem quis. Eu não exigi que ninguém tomasse vacina, está à disposição, você decide.

Se reeleito, qual é a sua prioridade? O que pretende fazer que não fez na atual gestão?

Em 2019, pegamos o Brasil com sérios problemas éticos, morais, econômicos e fizemos uma grande reforma previdência e, uma coisa importante, a Lei de Liberdade Econômica. No meu entender, isso foi uma grande vacina para questões econômicas em 2020. Não sabíamos das consequências econômicas da pandemia. Terminamos 2021, que, praticamente acabou a pandemia, com um saldo positivo de três milhões de novos empregos. No corrente ano, foram criados mais de 1,3 milhão de empregos. A informalidade, basicamente, voltou ao normal. Que outras medidas foram tomadas para que isso pudesse acontecer? Primeiro, o potencial que tem o povo brasileiro. De reagir, de se superar, de saltar obstáculos e ir para a frente. Nós fizemos muita coisa. Durante a pandemia, dois programas, Pronampe e BEm, que evitamos que empregos fossem perdidos naqueles anos. E medidas como o Marco do Saneamento, o Marco Ferroviário, o Marco da Cabotagem, entre outras, trouxeram emprego para o Brasil.

E na política externa?

Veja a confiança que o Brasil desperta no mundo. Temos uma excelente política externa. Negociamos, praticamente, com o mundo todo. A última negociação nossa, o mundo não querendo que fôssemos para a Rússia negociar o fertilizante com o presidente Putin. Grande parte da imprensa brasileira e alguns ministros meus também não querendo. E negociamos. Os fertilizantes vieram. Garantimos a nossa segurança alimentar e a segurança alimentar de 1 bilhão de pessoas ao redor do mundo. Temos um agronegócio pujante.

O que foi feito para o agronegócio?

Para estimular o homem a trabalhar mais, nós botamos um ponto final nas ações do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). Como? Titulando terras pelo Brasil. Ele era escravizado pelas lideranças do MST. Demos dignidade a essas pessoas. A questão do armamento está sendo negociada agora. Negociado, não, que, infelizmente, uma decisão monocrática do ministro (Edson) Fachin mexeu nisso. A arma de fogo também levou paz ao campo. A propriedade privada é sagrada, quer seja apartamento, casa, chácara fazenda. Quem entra lá não pode ser recebido com flores. Isso recalcou, e muito, as ações do MST. Digo uma coisa: no governo Fernando Henrique, tínhamos uma invasão de terra por dia no Brasil. No nosso governo, passou a ser cinco por ano. No governo Lula, tínhamos 20 por mês. Passamos a ter 0,5 por mês. Isso dá mais tranquilidade.

E na infraestrutura?

O Tarcísio, por exemplo, sempre falava: da porteira para dentro, a agricultura e a pecuária vão bem, da porteira para fora, não. Entre outros problemas, o deslocamento daquilo que era produzido. Um exemplo claro: temos a BR-163 lá no Pará, onde 50km não eram asfaltados. Desde o tempo do presidente (Ernesto) Geisel. O Tarcísio, em seis meses, época que não chovia, resolveu esse problema. O pessoal levava uma semana para passar com seus bitrens naquele espaço. Agora, leva uma hora, ou seja, fizemos muito pelo homem do campo, também, não atrapalhando. Uma questão importante: as multas no campo eram uma coisa absurda, como na cidade também. Reduzimos em, aproximadamente, 90% a multagem nos campos. Por exemplo: o Porto de Santos era um problema, era um loteamento político aquilo, a vida toda. O porto de Santos dava prejuízo de R$ 500 milhões por ano. No ano passado, deu lucro de R$ 500 milhões. Na Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo), que é o maior entreposto da América do Sul, 50 mil pessoas trafegam por dia com os seus caminhões. E o que acontecia lá? Lá tinha tráfico, prostituição, corrupção, desmando, tinha de tudo lá dentro. E quem estava administrando era o grande incentivador disso tudo. Botei lá um coronel recém-saído da Rota em São Paulo. Uma mudança enorme. O pessoal tem prazer de ir para lá. Faz o negócio com tranquilidade. No passado, se cobrava para o caminhoneiro ir dormir ali com seu caminhão, não se cobra mais. E ele saneou todas as filiais da Ceagesp pelo estado.

Esse é o estilo do governo Bolsonaro?

É a maneira de você administrar que faz com que a população passe a acreditar. Mais do que isso: sinta reflexos positivos daquela administração. Não é fácil. Eu sou técnico de um time de futebol. Quem entra em campo são Paulo Guedes, Tarcísio, Marcos Pontes, entre outros. E, como técnico, por enquanto, estou tentando me manter na frente desse time, que está dando certo até o momento. Mas quem diz se vou permanecer, ou não, é a torcida, que é a população brasileira.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), disse que avalia estar com o senhor a partir do resultado do segundo turno. Como analisa a postura dele?

Fizemos muita coisa por Minas Gerais. Sempre tive um bom relacionamento com Zema. O que aconteceu? O partido do Zema teve um candidato a presidente. Falei para Zema: “Estou pronto para me casar contigo, mas tenho de ter um palanque aí”. Ele falou: “Teria no segundo turno, caso o nosso candidato não fosse para o segundo turno”. Eu não podia ficar sem alguém para colaborar comigo em Minas Gerais. Reconheço que Zema fez um bom trabalho em Minas, não vou criticar, porque temos um candidato lá ao governo do estado, que é o senador Carlos Viana, uma pessoa excepcional. Não tenho problemas com Zema, acredito que ele não tenha comigo também, porque é uma pessoa muito leal e sincera, mas eu tenho o meu candidato lá. Se Viana não for ao segundo turno, e tiver no segundo turno Zema e o (Alexandre) Kalil, fico com Zema. Tenho certeza: se houver segundo turno entre mim e Lula, o Zema fica comigo.

Há meses o senhor tenta uma aproximação com o governador mineiro.

Eu queria que essa união, esse acordo tivesse desde o início da campanha, e não para um eventual segundo turno. Então, o povo mineiro, que trabalha em silêncio — já aprendi um pouco disso, porque eu sou mineiro de Juiz de Fora —, escolha bem os seus candidatos. Aí, estaremos juntos no segundo turno. Isso não quer dizer que estamos brigados no primeiro. Não. Eu falei para o Carlos Viana: “Entendo que o Zema fez um bom trabalho. Você quer vir candidato, tem direito e, como não houve o casamento do Zema comigo no primeiro turno, porque o partido dele, o Novo, teve um candidato, vamos fazer o possível aqui, sem atritos entre nós”. Peço a Deus que ilumine o povo de Minas Gerais, que eles bem escolham os seus representantes em todas as esferas, no Brasil e em Minas Gerais. O Zema tem um candidato ao Senado, e eu tenho outro. Não estamos brigados por causa disso.

Como está a questão aqui no DF? Está satisfeito com o governador Ibaneis Rocha? E o senhor tem duas candidatas ao Senado. Como é que fica?

Tem lá a Dona Flor e os seus dois maridos, e eu pego o inverso aqui. Se bem que não são duas esposas não, certo? Sou monogâmico, com todo o respeito, aí. Ibaneis, foi feito um acerto lá atrás, praticamente está concorrendo sozinho aqui. Acho que Ibaneis está resolvido no primeiro turno. Gosto muito da Flávia Arruda, minha ministra, e gosto muito, também, da Damares, ministra minha. Estou indeciso aqui, estou na coluna do meio nessa questão. Falo para o DF a mesma coisa que falei para Minas Gerais: “Deus ilumine vocês, para que escolham uma das duas. Mas deixar bem claro: não tem segundo turno. Uma divisão das duas poderia levar uma terceira. Se bem que acho que o quadro aqui está quase consolidado. Flávia está na frente, mas ela, como já disputou eleição, sabe que, na política, tem de batalhar até o último dia.

Como avalia o reinado da rainha Elizabeth II? Vai ao funeral, ou o governo mandará representante?

Decretamos três dias de luto oficial. A rainha Elizabeth é uma pessoa fantástica, sempre transmitindo alegria, seriedade e patriotismo. Uma família que teve seus problemas, como toda família tem, e ela sempre foi uma âncora nessas questões. O protocolo, ainda não sabemos. De acordo com o protocolo, a gente decide o que fazer. Eu, particularmente, estamos em campanha, andando pelo Brasil. Vamos analisar se é o caso de ir, ou não. Seriam dois dias da nossa agenda. Mas, caso não seja possível, mandaremos uma comitiva. No momento, a gente pede a Deus que conforte os seus familiares. Nossas condolências a todo o povo, não só da Inglaterra, como do Reino Unido todo.

O senhor busca o eleitorado feminino. Como está esse tema na sua campanha? No discurso no 7 de Setembro, o senhor comparou a primeira-dama com a esposa do ex-presidente Lula e fez aquele coro de “imbrochável”. Como explica aquilo?

Primeira coisa: não falei o nome da Janja (Rosângela da Silva). Falei primeiras-damas. Compare com as outras primeiras-damas. Temos 27 primeiras-damas nos estados pelo Brasil e temos 5.700 em municípios. Não conheço as outras. Vou falar que a Michelle é melhor que todas elas. Faço, são comparações. Com as primeiras-damas outras, né? A que foi a do Lula, a que foi a do Fernando Henrique, é comparar. Nada mais além disso daí. O trabalho que a Michelle faz é de conhecimento de todos. Ninguém vai aprender libras a não ser que seja algo que realmente saia do coração dela. Ela não ganha nada com isso. Os gastos dela, inclusive, vêm do meu salário de presidente da República e metade de capitão do Exército. Não recebo a aposentadoria da Câmara porque não pedi, para exatamente não me criticarem. Assim como meu gasto com o cartão corporativo pessoal é zero. Nunca gastei um centavo no cartão corporativo. Posso sacar até 25 mil por mês e fazer o que bem entender com essa grana. Dou o exemplo para o lado de cá. Ali, o apresentador é um cara conduzindo, animando. Ele é um conhecido locutor de rodeios, cuiabano, gosto muito dele. Em dado momento, ele falou da minha resiliência, da minha tenacidade e falou que eu era imbrochável. Aí, começou o pessoal a gritar. Virou meme.

Seus adversários disseram que era uma vergonha para o Brasil, aquilo na data da Independência. Que o senhor nem citou a palavra bicentenário quando estava lá.

O que eles se incomodaram não foi com isso. Falei no meu discurso: de vez em quando, falo palavrão, sim, mas não sou ladrão. Aí, bateu na moleira dos nossos adversários por aí. Essa bronca é deles. A questão do imbrochável é sinal de que eu vou ficar resistindo sempre. Não adianta me atacar.

Eles atacam o senhor, também, com a questão dos imóveis, a rachadinha.

Pegaram, reviraram a vida — a minha, o tempo todo —, agora, de irmãos, cunhados, ex-cunhados e minha mãe, que já morreu. Entre 11 ali, tinha cento e poucos imóveis. E na escritura estava escrito “moeda corrente”. Pega qualquer pessoa do cartório, é praxe isso aí, que tenha moeda corrente. É dinheiro vivo, é cheque, é DOC, qualquer coisa. Não é dólar. O que acontece: vamos arredondar aqui os números, passar para 10 parentes em vez de 11. Podia ter pego o Renan, mas não tem imóvel nenhum, não entrou na conta lá. Valores atualizados. Desde 1990. Pegaram a vida de irmãos, eu tenho duas ex-mulheres. Tem aí um ex-cunhado, e minha irmã que se separou há 18 anos, 15 anos, desse cara, que é muito bem-sucedido. Ele tem mais de uma dezena de casas de comércio de móveis há 30 anos. Daí aquilo tudo. É o dinheiro que seria meu, via propina, para eles. Dando a entender que eu alimento esses caras.

As denúncias são frágeis?

Você ficou dentro do Parlamento enquanto eu estive lá. Me aponte um cargo meu, federal, que eu tive em governos anteriores, Collor, FHC, Lula, Dilma ou Temer. Nunca tive um cargo sequer de ministro, de secretário, que pudesse dar margem. Agora, essas pessoas têm suas vidas. O que é triste é você ver irmãos meus, com a minha idade, agora na rua, o pessoal olha: “Opa, é teu irmão que está dando dinheiro de propina para você?”. Qual responsabilidade tem essa mídia? Fui investigado em 2015. E o PGR (procurador-geral da República) na época, o (Rodrigo) Janot, escreveu no parecer que não existia, nos dois imóveis meus na Barra da Tijuca, mínimos indícios para começar uma investigação. Ponto final. Não tenho nada de irregular. Agora, venham para cima de mim. Foram para cima da minha mãe, que já morreu.

Foram para cima dos seus filhos também com a questão das rachadinhas.

O Flávio, por exemplo, tem 12 imóveis que ele comprou na planta. Você sabe o preço da planta? De salas comerciais? Lá embaixo. Poucos meses depois, vendeu. Tive um imóvel, que eu comprei em 90 ou 91, vendi para o meu irmão, ao longo de 32 anos, e, depois, ele revendeu para mim. Foram mais três imóveis. O Lula está usando isso em campanha. Oh, Lula, quer comparar a minha família com a tua? A tua são de dezenas de milhões de reais. Ficaram ricos de uma hora para a outra, e tem muita coisa que se fala da família que eu não vou reverberar aqui porque eu não tenho prova, mas seus filhos vivem muito bem. Inclusive, usufruindo de benesses de estatais. Quer comparar com a minha família? Nós trabalhamos. Quando falam do Flávio ter uma mansão em Brasília, 60% é financiado no BRB. O Eduardo é a mesma coisa. Não se leva isso em conta. Esse ex-cunhado meu, há muito tempo não falo com ele. Está há 15, 18 anos separado da minha irmã. Quer me colocar num nível igual ao do Lula? Ô, Lula, reveja a delação do Palocci, em que ele termina dizendo que arranjou para você, Lula, uma conta de R$ 300 milhões, R$ 200 milhões para a Dilma. Veja isso.

E a rachadinha no Rio?

O que tenho a ver com rachadinha? Nada contra mim, porque vai em cima do meu filho. Ele foi, há quatro anos, triturado no processo. Não responde mais por isso. O pessoal aproveita a questão de imóveis: “Olha, comprou 12 imóveis”. Não sei quanto você ganha por mês, mas você poderia comprar doze imóveis ganhando pouco porque é muito pouca entrada para aquilo. O pessoal compra na planta, é um risco. Em vez de arriscar em fundos, seja lá o que for, arriscou ali e, depois, vendeu. Agora, eu também não tenho nada a ver com o filho, ele cuida da vida dele.

Como vai tratar a questão feminina? A repercussão de tudo o que o senhor fala é misoginia.

Que eu não gosto de mulher, né? Então, eu gosto de homem, descobri aqui. Olha só, eu demonstro com números. Já sancionamos mais de 70 leis em defesa da mulher. Ninguém fez isso. Acabei de sancionar uma nova lei sobre laqueadura. Ela tinha 25 anos, passou para 21, e a mulher casada não tem de pedir autorização para o marido para fazer essa laqueadura. E pode ser feito imediatamente. É um tremendo avanço. Quando você fala do Auxílio Brasil, são 20 milhões de pessoas, e 80% são mulheres. Quando você faz uma titulação da terra do campo, são 400 mil títulos, 80% mulheres. Por que mulher? Ouvi a Tereza Cristina. Uma coisa óbvia que ela falou para mim: “Presidente, o homem, quando pega o título, acaba fazendo negócio, separando da mulher, e a família fica abandonada”. A mulher é diferente, aquilo vai ficar com ela a vida toda. Quer mais vantagem do que isso? Nós endurecemos, e muito, a pena para agressores também. Fizemos um cadastro dos estupradores do Brasil. Temos um cadastro, que é reservado. Então, se tiver um estupro na região desse cara aqui, ele passa a ser um suspeito. O feminicídio diminuiu no Brasil.

Vem algum projeto a mais para as mulheres?

Posso adiantar. Anderson Torres, ministro da Justiça, faz operação coordenada com os estados. Até o momento, por exemplo, atendemos 316 mil vítimas, mulheres com problemas. Quinze mil denúncias apuradas. O pessoal achou que eu briguei com os homens. Foi o governo que mais prendeu machões no Brasil. Agora, o que eu sinto na rua com as mulheres é completamente diferente. Elas gostam de mim, e eu gosto delas. Nós nos damos muito bem. Fica uma narrativa: “Ele não gosta de mulher, ele é grosso”. Olha, realmente eu sou um pouco grosso, não vou negar, mas sou uma pessoa que fala a verdade. Muita gente no Brasil estava acostumado a ouvir mentirinhas bastante amenas e a ser enganado a vida toda. Mudou com a gente. Ou acha que, quando eu pego certos dados, certas denúncias, não fico indignado e falo palavrão? Falo, e vamos atrás buscar a solução para aquilo.

É um governo que deu certo?

Sou suspeito para falar de mim, mas os números da economia estão aí. O número de mulheres empregadas tem aumentado proporcionalmente também. Passamos a 100 milhões o número de pessoas empregadas no Brasil. Mulher está chegando aí quase à metade. Ou seja, cada vez mais a mulher está tendo o seu espaço. Como a mulher está tendo seu espaço? Nós estamos desburocratizando, desregulamentando. Somos o sétimo país mais digital do mundo. No final do governo Lula, levava três, quatro meses para abrir uma empresa. Tem empresa que você abre em poucas horas. Em média, em um dia só abre sua empresa. É o governo que mudou. Você pega a mulher idosa, por exemplo, que tinha que fazer a prova de vida para ganhar sua pensão. Hoje em dia, ela tem várias maneiras dentro de casa de fazer essa prova de vida. Ou seja, é um governo que tem um trabalho para todo mundo, e no meio está a mulher.

Há perspectiva de queda no preço da gasolina com sua eventual reeleição?

Os combustíveis influenciam diretamente na inflação. De tudo. O preço do combustível subiu assustadoramente no mundo todo. No Brasil, não foi diferente. Para resumir tudo aquilo, falei com o Arthur Lira, que resolveu botar um projeto em pauta limitando o teto do ICMS para o imposto estadual dos combustíveis, e limitou-se em 17%. Tinha estado que cobrava 35% de ICMS. Então, esse estado cobrava, por litro de gasolina, em média, R$ 2,30. Passou para metade disso. Paralelamente, tínhamos o imposto federal PIS/Cofins, que era R$ 0,69 da gasolina e R$ 0,10 da Cide. Nós zeramos isso, e vai ser mantido no ano que vem. No momento, o diesel está bastante caro ainda. Por que está caro? Porque, lá atrás, o seu Lula começou a fazer três refinarias do Brasil, não concluiu nenhuma e enterrou quase R$ 100 bilhões. E somos obrigados a comprar diesel a preço de mercado.

O que pode fazer em relação à suspensão do piso da enfermagem, determinada pelo ministro Luís Barroso, do STF?

Você deve saber como funciona o Supremo Tribunal Federal. Como é a ação desse ministro do Supremo Tribunal Federal. O Congresso aprovou, e eu sancionei. De forma monocrática, ele, sozinho, falou: “Não, R$ 4.600 é uma fortuna, não admito isso, vamos ter de ouvir a iniciativa privada”. Bem, pelo que eu sei, deve ser aberto hoje pelo plenário virtual. Então, o Barroso bota aí para decidir se vai ser mantida a liminar dele, ou não. Particularmente, se pudesse fazer, faria pelo decreto das armas, que o senhor Fachin resolveu, de forma monocrática também, tornar sem efeito. Prefiro não ir além disso, para não falar que eu estou atacando o Supremo Tribunal Federal. Agora, as medidas monocráticas que, eu acho, não tenho certeza, que a questão do piso da enfermagem foi aprovada por unanimidade na Câmara e no Senado. E nós sancionamos. Ou seja, uma pessoa, que foi escolhida por Dilma Rousseff para ser ministro do Supremo, contraria uma unanimidade — 594 parlamentares e um presidente —, ao meu entender, por um capricho pessoal dele. Ele não devia se meter nessas coisas. No meu entender, não é a ação dele. Não é isso. Não tem nada de inconstitucional nisso aí. O Supremo deve decidir as questões voltadas para a Constituição.

O Supremo é provocado. Se ele não tomar alguma decisão, alguém vai lá reclamar.

Não é porque alguém me provoca, ou provoca você, que você tem de atender essa pessoa. Sempre o Barroso, o Fachin e também o nosso queridíssimo, aí, que sabe que eu gosto muito dele, o nosso Alexandre de Moraes. Ele, em uma canetada, basicamente tornou sem efeito o nosso decreto em que estávamos baixando o IPI. E a competência privativa minha, ele dá uma canetada e fala: “Não, para esse tipo de produto aqui, não vale a redução de imposto”. Nós temos esse problema. Acho — não sei o que o povo acha — que tem três ou quatro ali que extrapolam. Essa questão da enfermagem, se eu não me engano, o teto é R$ 4.600. Não é uma fortuna, meu Deus do céu. São pessoas que se arriscaram durante a pandemia, atenderam nossos parentes e atenderam amigos no hospital com um vírus que ninguém conhecia. E acusaram de ser uma proposta eleitoral minha. A iniciativa não foi minha, foi do Parlamento. E eu, simplesmente, tinha o poder da caneta Bic, e sancionei o projeto. Repito: não podemos ter medidas monocráticas por parte de ministros, a não ser em uma extrema relevância e urgência.

Se reeleito, como ficará a sua relação com o Supremo? O que pode fazer para tirar essa tensão?

Não sou eu que provoco. Estou quieto. Por que você acha que eu não escolho um diretor-geral da Polícia Federal, e vai o ministro dar uma canetada e ele é amigo dele? Foi o Alexandre de Moraes. O Alexandre de Moraes era amigo do Temer. Como é que ele foi indicado para o Supremo, se eu não posso? Inclusive, o (Alexandre) Ramagem, que é candidato a deputado federal no Rio de Janeiro, ele não era amigo meu. Ele foi trabalhar comigo depois que eu ganhei as eleições. E foi trabalhar escolhido pela direção da Polícia Federal, que queria uma pessoa competente — assim como quase todos os delegados são competentes — para trabalhar comigo. E ficou, naquele final de outubro até eu assumir, e depois, teve a sua função na PF, quando apareceu a chance com a saída do (Maurício) Valeixo e do (Sergio) Moro, eu o indiquei. E Alexandre de Moraes falou: “Ele é amigo da família Bolsonaro, não pode ser diretor-geral da polícia”. Olha, senhor Alexandre Moraes, o senhor é amigo do Temer. Tanto é que foi indicado para ser ministro do Supremo Tribunal Federal. Você vê que tem uma certa politização dentro do Supremo. Tem gente que tem alguma bronca ideológica comigo, e eu me dou bem com todo mundo. Não tenho briga aqui. A briga é pontual com algumas pessoas dentro do Parlamento. Mas ali eu sempre tive uma convivência pacífica. Espero que a agora mude, com a saída do (Luiz) Fux, se bem que o Fux não tem nada a ver com isso. A Rosa Weber, vamos ver qual vai ser a postura dela, em especial nessas questões monocráticas. Quem decide é o Supremo, sem problema nenhum. Mesmo que eu não goste. Agora, a tensão não parte de mim.

O senhor vai à ONU em 19 de setembro. Que mensagem levará ao mundo neste fim de primeiro mandato?

Muito parecida com as atualizações de 2019, que eu fui muito bem, até porque grande parte da imprensa criticou. Falamos a verdade. O que são reservas indígenas, a questão ambiental e como está o Brasil. Tenho a coluna vertebral desse pronunciamento, muito voltado para nós aqui dentro. Sobre pressões ambientais, diminuíram por quê? A Europa está complicada. Há mais de 40 dias a França arde em chamas. Por que o senhor Macron não apaga o fogo? E olha que a França representa uma parte muito pequena em relação à nossa Amazônia. Não conseguiu conter o incêndio em Notre Dame, em um quarteirão, e fica dando palpite na nossa questão aqui. Espero que o Macron consiga apagar o fogo lá do seu país. Pretendo tocar na questão ambiental, mas de uma forma positiva para o Brasil.

Outros temas serão abordados?

Vou falar também que somos contra a liberação de drogas, que só uma mulher que tem um filho no mundo das drogas sabe o que é esse sofrimento; vou falar que defendemos a vida desde a sua concepção, que o maior patrimônio de qualquer pessoa, não interessa o poder aquisitivo, a cor da sua pele, o que ela faça na vida, o maior patrimônio são os nossos filhos; e não aceitamos a ideologia de gênero. Não posso admitir que a minha filha de 11 anos, por exemplo, que está aqui no colégio em Brasília, vai ao banheiro e tem um moleque de 15 anos lá fazendo xixi do lado dela. Não posso admitir isso. O meu patrimônio é a minha filha. Nenhum pai admite isso. Nem que seu filho faça isso com a menina do lado. Temos de combater essas práticas, que só levam à destruição da família. E um país sem família estruturada é um país fadado ao fracasso.

Quais são as suas considerações finais?

Obrigado a Deus pela minha segunda vida. E pela missão de comandar esta grande nação. Creio que foi um milagre a minha eleição. Não tinha nada. Era um deputado que discursava com o plenário vazio. Sou um cidadão, erro, falo palavrão, mas não sou ladrão, não engano, não tem palavras difíceis. Busco a reeleição? Sim. Peço quem está me assistindo, se achar que eu mereço, bota 22 lá, e vamos em frente. Se achar que o outro lado merece, você decide. Agora, o que nós vimos pelo Brasil, aqui em Brasília, na Esplanada; em São Paulo, na Paulista; em Copacabana, no Rio de Janeiro. Acho que está decidida a eleição no primeiro turno. Não tem explicação para o outro lado ganhar. Não foi apenas aqui, foi no Brasil todo.

Fonte: Correio Braziliense.

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