O último fim de semana transcorreu, inquestionavelmente, sob o signo dos festejos da comemoração do sesquicentenário da instalação da Colônia Imperial Príncipe Dom Pedro em território hoje pertencente aos municípios de Brusque, Nova Trento, Botuverá, Guabiruba e parte de São João Batista. Todas as comunidades engalanaram-se para os festejos e foi realmente admirável observar que o opulento e vetusto historiador Paulo Kons, idealizador e organizador do evento, conseguiu, apesar da canícula, catapultar para dependências da Escola Fundamental Padre Luiz Gonzaga Steiner toda a “nomenclatura” local, bem como a das cidades envolvidas, todos devidamente enfatiotados e engravatados para o real evento, conduzido por um rígido protocolo, aparentemente inspirado nas cortes espanholas do século XVIII.
Como par de vasos ao organizador, funcionou novamente a figura principesca de Dom Bertrand de Orleans e Bragança, especialmente convidado para receber as homenagens devidas ao seu ilustre antepassado que ordenara a instalação da Colônia Imperial e cuja sede supostamente se localizava no local das festividades, ou seja, em Águas Claras.
Tímido, discreto, educado e culto, o príncipe não irradia aquela aura que se esperaria de uma figura real: mais se parece com um intelectual da década de 1940. Sua profunda e inabalável religiosidade deve estar ancorada nos primórdios do século XVII, inspirada nas motivações das hostes católicas na Guerra dos Trinta Anos, pois até os dias de hoje a figura real não trespassa a soleira de um templo protestante!
As festividades do “capítulo Brusque” não poderiam ter sido melhor organizadas, e apresentaram inúmeros pontos altos: a organização perfeita dos corpos docente e discente como anfitriões do evento; a brilhante conferência magna proferida pelo escritor Aloisius Carlos Lauth, na minha opinião um pouco técnica demais para aquelas cabeças de alunos pré-adolescentes; a inauguração de um marco alusivo à data e uma belíssima mesa de comes e bebes produzida pelas quituteiras de plantão.
Os festejos alusivos ao sesquicentenário foram um evento cultural marcante, inquestionavelmente resultado da persistência, da insistência e tenacidade de Paulo Kons, que já guarda em sua algibeira eventos similares a realizar-se nos próximos anos.
Gostaria de sugerir-lhe, para eventos futuros, um cerimonial mais flexível, menos engessado. O traje para os cavalheiros poderia ser “passeio”, sem paletó nem gravata, ajustando-se ao clima vigente e deixando os participantes mais confortáveis. A composição da “mesa diretora” também poderia ser mais frugal e a “bancada de honra” (cadeiras nas laterais) deveria ser abolida, pois nada mais é do que um consolo para aqueles que não conseguiram um lugarzinho na mesa das autoridades. Sobre a execução de hinos patrióticos, acho que um bastaria, e nunca dois ou três, como se tornou hábito. E importantíssimo: menos santas missas, cultos festivos, orações ao Angelus, Adoração ao Santíssimo Sacramento e assim por diante. Menos avisados poderiam confundir o evento com um Congresso Eucarístico, e antes e acima de tudo, o excesso de nuvens de incenso podem causar problemas respiratórios aos componentes da comitiva real. O que não deixaria de ser constrangedor!
Justiça injusta
Sempre mais convencido estou de que o nosso sistema Judiciário se encontra numa profunda crise e necessita urgentemente de uma extensa e radical reforma. Diariamente somos confrontados com decisões de nossos tribunais, que racional e moralmente não conseguimos entender, quanto mais justificar.
Em verdade, o nosso sistema Judiciário está parecido com um queijo suíço, cheio de buracos denominados “habeas corpus” e “liminares”, que não passam de estratagemas para livrar a bandidagem da cadeia, principalmente a de colarinho branco.
A absurda morosidade da Justiça e os meandros que facilitam a impunidade colocam a população num estado de de desalento e desânimo, convencidos de que a Justiça pode ser muito injusta.
Recentemente tomamos conhecimento, estupefatos, do”habeas corpus” concedido pelo ministro Marco Aurélio do STF ao ex-goleiro Bruno Fernandes, condenado a 22 anos e 3 meses de prisão pelo sequestro, assassinato e ocultação de cadáver de sua amante e mãe de seu filho, Elisa Samudio. E agora, depois de cumprir 6 anos e 7 meses de reclusão, numa penitenciária mineira, vemo-lo alegre e sorridente, de mãos dadas com sua nova companheira, atravessar os portões do complexo penal, aplaudido por familiares, fãs e amigos.
E para coroar o balaio de absurdos, o recém fabricado herói recebe ofertas de inúmeros clubes de futebol para integrar o seu plantel de jogadores.
Definitivamente, tornou-se muito difícil identificar os valores que norteiam a sociedade nos dias de hoje! Mas nem tudo está perdido: após ser contratado pelo clube esportivo de Varginha (MG), a agremiação acabou perdendo todos os seus patrocinadores, inclusive a prefeitura. Bom sinal que comprova que a decência ainda continua viva.
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