Infelizmente já não existem mais dúvidas de que estamos atravessando a maior e mais dramática crise da história republicana: de um lado estamos sendo fustigados por uma letal pandemia, no outro nos vemos tragados por uma crise política que vem no rastro das revelações do ex-ministro da Justiça Sergio Moro, que acusa o presidente de querer interferir politicamente na Polícia Federal para salvaguardar da justiça os seus filhos e amigos.
Para infelicidade da população, o governo central ainda não conseguiu implementar uma clara e definida política sanitária para combater o vírus, pois enquanto o Ministério da Saúde tenta seguir rigorosamente as recomendações da Ciência e da Organização Mundial da Saúde, que consideram o isolamento e o distanciamento social o mais eficaz antídoto para combater a pandemia, nosso presidente aposta na direção oposta: apesar dos mais de mil óbitos diários, nega-se a reconhecer a gravidade da situação, minimiza o perigo do contágio, prestigia aglomerações de pessoas e defende uma imediata flexibilização do isolamento, em que se manteria somente os idosos com mais de 65 anos trancafiados em casa.
Não esclarece, no entanto, como seriam atendidos e tratados os milhares de novos infectados adicionais, por uma já fragilizada infraestrutura hospitalar, no limite de sua capacidade de atendimento.
A atuação de Bolsonaro no combate à pandemia tem sido catastrófica, já tendo consumido dois ministros da Saúde, que acabaram jogando a toalha por não querer submeter-se aos seus caprichos. O ministério encontra-se sem titular, e isto no auge da pandemia, e o Presidente já avisou que não tem pressa em preencher o cargo. Assim não causa espanto que a mais importante publicação científica do mundo, “The Lancet”, considere nosso presidente “a maior ameaça planetária pela luta ao coronavírus”.
Bolsonaro acaba de impor a liberação do controvertido medicamento cloroquina, freneticamente defendido por Trump no combate ao coronavírus, no que é seguido por seu fiel vassalo tupiniquim. A OMS alerta de que não há eficácia comprovada no combate à Covid-19, chama atenção para os efeitos colaterais e mesmo o risco de morte. Só mesmo Bolsonaro…
As posturas político ideológicas de presidente têm se tornado sempre mais radicais, não deixando mais muita dúvida de que seu “sonho dourado” seria fazer do Congresso e do STF um puxadinho” do Planalto, com Ele entronizado como “Líder Supremo”, naturalmente com o apoio e o beneplácito das Forças Armadas.
O governo Bolsonaro tornou-se um engodo que nem o mais desvairado antipetismo consegue justificar. As suas mais importantes bandeiras de campanha foram rasgadas e a sua promessa de governar sem viés ideológico revelou-se uma deslavada enganação, pois o furor fascistóide de sua administração não encontra precedentes na história do Brasil contemporâneo, com exceção do período da Ditadura Militar de 1964 a 1985.
A sua espúria aliança com os fisiológicos parlamentares do Centrão, símbolo da “velha política do toma lá dá cá”, tão demonizada pelo Mito em sua campanha eleitoral, nos traz a certeza de que nada mudou em nosso país e de que o “paladino da moralidade” é farinha do mesmo saco dos presidentes que o antecederam.
Esta nova composição deverá custar aos cofres públicos cerca de R$ 90 bilhões em cargos na máquina federal e estadual e visa a criação de uma base parlamentar governista e uma blindagem de Bolsonaro para um eventual pedido de impeachment.
Deixe um comentário