A sabatina de um amigo meu

Tempo de leitura: 2 min

em 26/08/2022

No JN, Lula tentou vender mais uma vez a ideia de que fez o melhor governo da história, sem admitir erros e crimes; entrevista serviu-lhe de bom palanque

A sabatina de um amigo meu

Lula não alcançou, como queria, a audiência de Jair Bolsonaro na sabatina do Jornal Nacional. Como mostramos mais cedo, para o PT “não existe comício que atinja 40 milhões de pessoas ao mesmo tempo, como o programa é capaz de fazer”. Caso a entrevista não ajude a reduzir sua rejeição nas pesquisas, o petista deverá rever sua decisão de não comparecer aos debates.

Nesta reta final, em que a diferença em relação a Jair Bolsonaro se estreita, o ainda líder nas pesquisas não pode se dar ao luxo de permanecer dentro da bolha.

Mas vamos ao que interessa.

Sobre a sabatina em si, Lula foi previsível. Manteve o tom apelativo de entrevistas anteriores, colocando-se como vítima de um improvável conluio judicial (“fui massacrado por 5 anos”) que envolveu 4 instâncias do Judiciário, da base à cúpula do Ministério Público e centenas de policiais e auditores.

O tema “Lava Jato” consumiu meia dúzia de perguntas de William Bonner e Renata Vasconcellos, que, apesar da insistência no assunto, se mantiveram na superfície do esquema de corrupção capitaneado pelo petista, sem explorar as contradições do candidato.

O tom mais suave dos apresentadores (“O Supremo te deu razão”) deixou o clima mais ameno, permitindo a Lula usar o JN como palanque e mentir como nunca antes na história deste país — sem ser desmentido, diga-se.

Em resumo, Lula vendeu pela enésima vez a ideia surrada de que a corrupção em seu governo foi investigada e que nunca teve nada a ver com as indicações dos corruptos que dilapidaram a Petrobras ou com a compra de apoio no Congresso e tantos outros escândalos (Satiagraha, Castelo de Areia etc.), investigados sim e enterrados também.

Fiquei com a impressão de que o governo de Lula não foi de Lula, pelo menos a parte ruim. Foi de um amigo, provavelmente, como nos casos do triplex e do sítio de Atibaia.

Seguindo essa lógica, não haveria razão para atribuir a ele o bom período econômico vivido na época do boom das commodities, o lucro recorde dos bancos, o Bolsa Família, a queda do desemprego e até a onda de consumo que deixou a ilusão de uma nova classe média.

O ex-presidente também nunca poderia ser responsabilizado pela recessão decorrente do abandono do tripé macroeconômico e da contabilidade criativa de sua pupila. Talvez isso tenha acontecido em outro Brasil, não no Brasil de Lula, onde mulher não apanha e a imprensa deve ser livre — regulação é coisa do amigo.

O Lula da sabatina do JN também nunca estimulou a polarização política.

Na verdade, o “nós contra eles” seria apenas uma coisa boba de “torcida organizada”, mas sem a violência. Afinal, na política é preciso tratar o outro como adversário, nunca como inimigo. A polarização é até uma coisa boa, existe em toda parte, menos “no Partido Comunista Chinês e no Partido Comunista Cubano”.

Ah, sim. O MST do Lula, segundo ele mesmo, nunca invadiu uma terra produtiva na vida. Deve ter sido outro.

Fonte: O Antagonista.

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