Com a ascensão de Bolsonaro, o Brasil passou a ter mais um ingrediente econômico, inédito até aquele momento, e que passou a ser o único setor produtivo a crescer a olhos vistos: o setor da crise.
Em meio às turbulências diárias produzidas pela cozinha do Planalto, no entanto, acabamos surpreendidos por uma notícia assaz alvissareira que, se confirmada, representaria meio caminho andado para o encaminhamento adequado daquilo que preocupa a população: a aprovação da reforma da Previdência.
O Congresso, convicto da falta de vontade e da incompetência do Executivo em articular-se e estabelecer um clima de diálogo, tomou para si o protagonismo da condução da reforma que, espera-se, possibilitará ao país a volta à rota da prosperidade.
Ultimamente, nosso presidente tem andado furibundo, mormente porque várias de suas promessas eleitorais, todas polêmicas, foram rejeitadas pelo Congresso Nacional, a maioria por atentar contra os preceitos de nossa Carta Magna.
O problema é que durante a campanha eleitoral o candidato Bolsonaro comprometeu-se com vários grupos de apoio, que agora lhe cobram as bondades prometidas.
A bancada da bala não arreda o pé, insistindo no projeto da flexibilização das armas que, rejeitado pelo Senado, aguarda uma apreciação da Câmara dos Deputados. Imagino nosso presidente plantando bananeira para convencer os parlamentares de que um “Brasil faroeste” é a solução ideal para garantir a segurança da população.
No mínimo estranho me parece um vídeo que circula nas redes sociais acusando o senador Esperidião Amin de traidor de Santa Catarina por ter votado contra o projeto armamentista do governo, o que nos leva a concluir que os bolsonaristas podem entender de armas, mas são uma nulidade no exercício da democracia.
O poderoso grupo dos evangélicos é outro sólido pilar de sustentação da política do “mito”, e a sua bajulação aos pentecostais é intensa e constante.
Os mais importantes eventos religiosos são prestigiados com a figura presidencial, que até em Balneário Camboriú já participou da liturgia de praxe.
Além de conceder um passaporte diplomático ao casal Edir Macedo por “serviços prestados”, Bolsonaro acena com a possibilidade de um juiz evangélico no STF.
Confesso que a carolice de nosso presidente com seu “Deus acima de tudo” não me convenceu até os dias de hoje: creio que tudo não passa de estratégia eleitoreira, pois se cristão fosse como quer parecer, não teria afirmado a jornalistas que “furando a barriga do Lula jorraria cachaça”.
Imperdoável, ainda mais vindo da boca de um presidente da República.
Outro setor a cobrar insistentemente a recompensa pelo apoio político é a poderosa bancada do agronegócio, que alimenta o sonho dourado de controlar a Funai, certamente para aumentar suas terras produtivas às custas dos territórios indígenas.
Tradicionalmente vinculada ao Ministério da Justiça, Bolsonaro transferiu a Funai, que controla a demarcação das terras indígenas, ao Ministério da Agricultura, o que equivaleria a nomear o lobo para cuidar do galinheiro.
O Parlamento, sabiamente, vetou a mudança, o que deixou o presidente furioso: “quem manda sou eu, quem demarca terra de índio sou eu!” vituperou, o que pode ser interpretado como o clamor de alguém pouco afeito às lides democráticas.
O governo federal está sendo submetido a um incessante processo de militarização e dois terços dos quadros importantes devem estar na mão de fardados. Creio que as Forças Armadas sejam as únicas a merecer a confiança do presidente, que notoriamente não cultiva relacionamentos fora da área verde amarela e do âmbito religioso.
Curiosamente, os militares têm sido o fator de equilíbrio e estabilidade do governo e seu pragmatismo e sensatez tem sido o alvo preferido ideólogos do regime, o clã presidencial e o guru maligno Olavo de Carvalho.
Pressionado pela ausência de uma convincente política de resultados, o presidente sentiu-se motivado a demitir inúmeras personalidades de peso que ocupavam postos no primeiro e segundo escalão, submetendo-os a um grosseiro e imperdoável processo de fritura pública, que certamente lhe custara alguns pontos na popularidade, bem como um novo rol de desafetos declarados.
O general Santos Cruz, respeitadíssimo e demissionário da Secretaria de Governo, declarou: “o governo Bolsonaro é um show de besteiras”. Preocupante.
A popularidade de Bolsonaro derrete a olhos vistos, consequência da falta de resultados e principalmente da falta de projetos em áreas vitais como saúde e educação, sendo que suas quixotescas fantasias ideológicas encontram respaldo num número sempre menor de admiradores.
Sua salvação será fazer a economia funcionar, caso contrário será esquecido mais cedo do que espera.
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