Em entrevista ao Correio, o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, diz confiar que Pacheco confirmará sua pré-candidatura ao Planalto
A pouco mais de um ano das eleições de 2022, os eleitores que não pretendem votar no presidente Jair Bolsonaro nem no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva — em torno de 40%, segundo as pesquisas de opinião — ainda aguardam a definição do nome que vai representar a chamada terceira via na disputa. Entre as forças políticas de centro, o PSD está bem avançado nessa discussão. Em breve, o partido deve ter entre os seus quadros o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), que cogita deixar o DEM para concorrer ao Planalto.
Em entrevista ao Correio, o ex-prefeito de São Paulo e presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, diz confiar que Pacheco, caso confirme sua pré-candidatura, passará a ser mais conhecido nacionalmente e subirá na preferência dos eleitores. Segundo ele, o preparo intelectual, a habilidade política e o discurso conciliador que o senador tem adotado o levarão ao segundo turno da corrida presidencial.
Durante a conversa, Kassab garantiu que o PSD nunca teve qualquer tipo de vínculo com o chamado Centrão — bloco partidário que negociou cargos em troca de apoio a Bolsonaro e que assume cada vez mais o controle do governo. O político diz, também, que o presidente dificilmente será reeleito, em razão dos erros do governo federal na condução da pandemia e dos “desgastes gerados por polêmicas e confusão” em torno da segurança das urnas eletrônicas.
“O brasileiro fica estarrecido quando ele vem com ameaça à eleição — beira o ridículo. Nosso sistema (de votação por meio da urna eletrônica) é confiável e seguro. Ele é presidente da República, foi eleito democraticamente; não pode vir e ameaçar, por motivos realmente inexplicáveis, a realização da eleição”. A seguir, os principais trechos da entrevista.
O senhor tem trabalhado para que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, seja o pré-candidato do PSD ao Palácio do Planalto, representando a terceira via. Já houve alguma
definição de quando ele deixará o DEM para se filiar ao PSD?
Não posso falar pelo senador. Combinamos de ele refletir sobre o projeto presidencial. Entendemos que o Rodrigo tem o perfil que o Brasil precisa, de alguém que possa desenvolver a união ao país, a pacificação. É uma pessoa muito preparada. Se constituiu em um dos maiores advogados do país e, num determinado momento, resolveu ingressar na vida pública.
Para o senhor, quais são as credenciais do senador?
Ao ingressar na vida pública, mostrou a mesma competência que tem na profissão de advogado. Elegeu-se deputado federal por Minas, o que não é fácil. Chegando à Câmara dos Deputados, assumiu a presidência da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), que é o segundo cargo da Casa, e, diante do êxito do mandato, apresentou-se, posteriormente, como candidato a senador por Minas, o que é mais difícil ainda. Foi eleito como o senador mais votado e, chegando ao Senado, elegeu-se presidente do Congresso. Portanto, tem todas as premissas de uma pessoa habilitada a ser candidata à Presidência da República e, evidentemente, ser um bom presidente. Talento para a política, boa formação moral, profissional, ética na conduta, tudo isso o habilita a ser candidato. Evidentemente que essa avaliação foi acompanhada de um convite para se filiar e ser o candidato do PSD, até porque tem como base principal esse currículo, que o credencia. Como ele tem uma sensibilidade política muito grande, acredito que vai avaliar e concluir que o Brasil precisa de alguém com o seu perfil. Acredito que será candidato e vamos ficar muito felizes sendo o candidato do PSD.
Rodrigo Pacheco obteve 1% na primeira vez em que foi citado na pesquisa de intenção de voto XP/Ipespe. Como o senhor avalia esse resultado?
De uma maneira positiva, porque ele ainda não se apresenta como candidato, até porque não se definiu. A citação ao seu nome com 1% dos entrevistados é boa, nos deixa confiantes de que estamos acertando na definição da pessoa. Ele nunca disputou uma eleição nacional e só terá posição consistente nas pesquisas a partir de maio do ano que vem, quando estará criado o clima da eleição no Brasil.
O senhor considera que, no primeiro turno das eleições presidenciais, pode haver mais de um candidato da terceira via?
A questão não é a terceira via. Cada partido tem a legitimidade para lançar os seus candidatos. Assim como queremos lançar o nosso, eles têm o mesmo direito. Mas o eleitor, na reta de chegada, dá voto útil se perceber que alguns dos candidatos têm mais chances de segundo turno, de ganhar a eleição, para enfrentar e vencer aquele que rejeita. Acho difícil que a gente não tenha pelo menos cinco candidatos (no primeiro turno), é normal no Brasil. Mas nada afetará as chances de Rodrigo Pacheco ir para o segundo turno. Acredito que, no momento em que ele se apresentar, terá uma visibilidade grande, as pessoas conhecerão sua formação. E vai, com certeza, crescer nas pesquisas.
O senhor tem conversado com outros partidos de centro, com PSDB, MDB e DEM? Está aberto ao diálogo?
Tenho evitado porque são partidos que têm candidaturas e é uma questão de respeito. No momento em que a gente está envolvido com uma candidatura, ao procurar outra legenda parece que você está admitindo que sua candidatura não vai até o final. Como acreditamos que, realmente, ele (Rodrigo Pacheco) tem o melhor perfil, seria até uma hipocrisia participar, nesse momento, dessas conversas.
O senhor diria o mesmo em relação a PT e PDT?
A mesma coisa.
A que o senhor atribui o favoritismo do ex-presidente Lula nas pesquisas de intenção de voto?
Ainda não existe o clima de campanha, não existe a comparação de governos. Mas existe uma grande rejeição ao atual governo. E as pessoas enxergam apenas a candidatura do ex-presidente, que veio cedo. No momento, uma série de circunstâncias as levam a rejeitar Bolsonaro e a ter Lula como única opção.
O bloco político conhecido como Centrão, do qual o seu partido faz parte, assumiu a articulação do governo com o Congresso e tem vários cargos federais. O PSD, por exemplo, comanda o Ministério das Comunicações. Por que o senhor decidiu não apoiar a reeleição de Bolsonaro? Isso não prejudica a participação no Executivo?
O PSD não faz parte do Centrão, nunca fez. Sempre manteve um distanciamento do Centrão, mas isso não significa que, em diversas oportunidades, a gente não vote de maneira igual. O PSD decidiu não participar de grupos para manter sua identidade. Essa é a razão, sem entrar no mérito do Centrão, se determinado partido é bom ou ruim. Por definição, nós não participamos de grupos e blocos.
O PSD hoje comanda o Ministério das Comunicações, com Fábio Faria (Kassab
interrompe a pergunta)…
Não, também não. Foi uma escolha de Faria — de quem, aliás, sou amigo — assumiu o cargo por uma decisão pessoal. Inclusive, anunciou que está se desligando do partido por conta da presença no ministério. Foi uma escolha do presidente, num entendimento direto com o Fábio, sem passar pelo partido.
O Brasil está no caminho certo para sair das crises sanitária, econômica, social e política?
Não, estou muito preocupado com os reflexos dessa possível reforma tributária, que visa nada mais que aumentar a arrecadação. Num momento de crise, em que todos perdem, qualquer um que seja instado a tributar um valor maior pode, efetivamente, ter dificuldades de sobrevivência. (O governo) não está no caminho certo no Ministério da Economia, principalmente por conta dessa proposta de reforma tributária. Não esteve corretamente posicionado na questão do enfrentamento à pandemia, principalmente com os maus exemplos dos nossos governantes, em desrespeito ao uso de máscara, ao distanciamento e à recomendação da vacina.
Como o senhor avalia a postura do presidente Jair Bolsonaro na pandemia?
Negativa. Seus exemplos não são os recomendados. Não recomendou o uso de máscara, pelo contrário; também (não recomendou) o distanciamento social. Houve demora na compra de vacina. Portanto, não entendo como positiva a conduta.
O senhor considera que a postura do presidente na pandemia será muito cobrada nos debates da campanha presidencial de 2022?
Tenho certeza absoluta. A bola da vez da campanha do ano que vem, em qualquer país do mundo que tenha eleição, será a pandemia, a postura dos governos, seus erros e acertos.
Como o senhor avalia as revelações da CPI da Covid sobre as falhas do governo no enfrentamento à pandemia e sobre indícios de corrupção no Ministério da Saúde?
Com muita tristeza porque estão, possivelmente, confirmando ações que prejudicaram muito o combate à pandemia, no campo da administração, principalmente. Vamos aguardar o final da CPI, mas o que veio a público até então são notícias e informações que deixam todos entristecidos, indignados e preocupados.
Em um encontro com representantes da Frente Parlamentar do Empreendedorismo, semana passada, o senhor afirmou que Bolsonaro pode não disputar a reeleição em 2022 se continuar apenas preocupado com polêmicas e sem preparar “palanques regionais”. O senhor acredita que o presidente pode ficar fora do primeiro turno?
Reafirmo minha opinião vendo o desgaste. A avaliação do governo está cada vez pior e ele não tem nem partido ainda. Portanto, acredito que, por essa análise, ele possa não estar no segundo turno. A chance de ele não chegar ao segundo turno é, hoje, grande. Acho muito difícil diante da grande rejeição que tem.
E no primeiro turno?
No primeiro, acredito que ele seja candidato. Mas Bolsonaro é muito vocacionado para polêmicas, para confusão. Não descarto que não esteja, mas acredito que estará (no primeiro turno). Mas não será nenhuma surpresa (se não estiver no primeiro turno).
Como o senhor avalia as ameaças de Bolsonaro à realização das eleições de 2022? Ele tem repetido que, sem o voto impresso, apesar de o Congresso ter sepultado essa ideia, não haverá eleições.
É mais um equívoco. O brasileiro fica estarrecido quando ele vem com ameaça à eleição — beira o ridículo. Nosso sistema (de votação por meio da urna eletrônica) é confiável e seguro. Ele é presidente da República, foi eleito democraticamente; não pode vir e ameaçar, por motivos realmente inexplicáveis, a realização da eleição.
Como o senhor vê as ameaças do presidente sobre um possível uso das Forças Armadas como moderadoras numa crise política?
As Forças Armadas sempre cumprirão seu papel. A condução das questões políticas cabe ao Congresso. A estabilidade do Brasil hoje existe, as instituições funcionam. São argumentos apenas para causar confusão, preocupação e, dessa maneira, começar a sociedade a entender de que possa haver algo no sentido de abalar nossas instituições. Não acredito nas propostas que vão contribuir para a instabilidade da nossa democracia.
O senhor acha que Bolsonaro tem dado sinais de que reconhece o risco da derrota nas eleições?
É o que se supõe. Não posso falar por ele, mas, na hora que o presidente promove tanta confusão, diante de um sistema (de votação) que é sabidamente seguro, você tem toda legitimidade para questionar se tem algo por trás, até mesmo uma tentativa de que isso termine em uma situação que não tenha eleição.
Fonte: Correio Braziliense.
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