Ninguém mais dúvida de que estamos mergulhados no mais letal período desta pandemia que assola o mundo, com explosão de óbitos em todos os estados, recordes de mortes diárias, faltas de leitos, UTIs e vacinas, e o que é mais grave, insistentes sinais de um iminente colapso da saúde pública, a nível nacional.
Em nosso estado, 20 pessoas já morreram em corredores de hospitais, enquanto aguardavam transferência para um leito de UTI, ao passo que na semana que corre, 15 catarinenses em estado grave acabaram sendo transferidos para o Espírito Santo, por falta absoluta de leitos especializados em nosso estado.
Em verdade, estamos colhendo o que se plantou, pois jamais o governo Central se preocupou em promover uma unificada e draconiana política de combate ao vírus para o país, preferindo estimular a polarização entre os que priorizam a vida, liderados pelos governadores, prefeitos e a Ciência, e aqueles que consideram mais importante salvaguardar a economia, capitaneados pelo presidente da República, seus fiéis seguidores e parte do setor produtivo nacional.
Boa parte da culpa pelo trágico momento que atravessamos cabe também à cuca fresca de nossa população que, nas festas de final de ano e no Carnaval, que não aconteceu, esbaldou-se nas praias e em aglomerações, tendo mandado às favas todas as recomendações da ciência para evitar a contaminação pelo vírus. A maior parte do bônus cabe, no entanto, a Bolsonaro, que, negacionista, sempre minimizou a pandemia, (gripezinha), desqualificando as medidas preventivas, além de dar um péssimo exemplo na promoção de aglomerações (vejam como sou amado!), obviamente sempre sem as máscaras protetoras.
Mais grave ainda foram as suas intervenções no Ministério da Saúde, onde em plena pandemia, despediu dois ministros técnicos, Mandetta e Teich, por se recusarem a fazer da cloroquina o carro chefe no combate à Covid-19, para entronizar um militar nada competente e atrapalhado, cuja obrigação maior reside em cumprir as ordens de seu chefe.
Mesmo agora, no auge da crise, bolsonaristas entulham as redes sociais demonizando a vacinação, as restrições e fazendo da cloroquina o injustiçado salvador da pátria nacional.
Bolsonaro, mestre em transferir responsabilidades para terceiros, culpa governadores e prefeitos pelo caos atual, afirmando constantemente que “segundo o Supremo Tribunal Federal, a política de combate ao vírus cabe a governadores e prefeitos”, apesar de o Supremo nunca ter dispensado o governo federal da responsabilidade de atuar no combate à pandemia.
Ao mesmo tempo acusa os governadores de falcatruas nas milionárias transferências da União para os estados, o que tem causado um clima de guerra civil entre Brasilia e as capitais da federação.
Pressionado pela falta de vacinas, UTIs e a inércia de Brasília, os governadores resolvem atuar por conta própria e negociar com os laboratórios para suprir os mercados das vacinas que o governo federal não consegue desencantar. Os secretários estaduais da Saúde, por sua vez, exigem do governo federal, restrições mais rigorosas, eventualmente um lockdown nacional.
Definitivamente, não se ganha uma batalha com os generais do mesmo exército guerreando entre si. Enquanto o governo e a sociedade não acordarem uma mesma linguagem e um compromisso de puxar a mesma corda, a nau continua à deriva, com poucas chances de um final feliz, pois os botes salva-vidas são poucos.
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