A apoiadores, Bolsonaro anuncia que no discurso de abertura da 76ª sessão citará a discussão sobre marco temporal no STF. Para ele, há pressões externas para tese ser derrubada e "uma área equivalente à da Alemanha" vá para os indígenas
O presidente Jair Bolsonaro embarcará, amanhã, para Nova York, onde participará da abertura da 76ª sessão da Assembleia-Geral da ONU. No discurso de abertura, promete voltar a fazer provocações ao Supremo Tribunal Federal (STF) — apesar de o tema oficial ser “Construindo resiliência por meio da esperança – para se recuperar de Covid-19, reconstruir a sustentabilidade, responder às necessidades do planeta, respeitar os direitos das pessoas e revitalizar as Nações Unidas”. Bolsonaro criticará a possibilidade de a tese do marco temporal, que estabelece a data da promulgação da Constituição de 1988, como baliza para a definição de terras indígenas. A votação na Corte está suspensa, pois o ministro Alexandre de Moraes pediu vistas do processo, mas o placar está 1 x 1 — o ministro Edson Fachin votou contra o marco e o ministro Nunes Marques, a favor.
“O que eu devo falar lá? Algo nessa linha: se o marco temporal for derrubado, se tivermos que demarcar novas terras indígenas, hoje em dia temos aproximadamente 13% do território nacional demarcado como terra indígena já consolidada. Caso tenha-se que levar em conta um novo marco temporal, essa área vai dobrar”, disse a apoiadores em Arinos (MG), onde participou da cerimônia de anúncio do Projeto Pró-Águas Urucuia. Mais uma vez, ele não disse de onde tirou as informações que deu.
Segundo Bolsonaro, “a gente espera que o STF mantenha esse marco temporal lá de trás, de 1988. Para o bem do Brasil e para o bem do mundo também. Tem gente lá fora pressionando por um novo marco temporal, para demarcar mais uma área equivalente à da Alemanha e da Espanha. Vai ter reflexo lá fora também”, acusou.
Além de mais uma vez atacar a imprensa — “a imprensa quer saber o que eu vou falar lá. Vai descobrir na televisão, na terça-feira. Não vou mostrar o que é porque vão distorcer”, observou—, prometeu dizer “algumas verdades” sobre a situação do país. Uma delas seriam ataques aos grupos de esquerda, sobretudo nesse momento em que, de acordo com pesquisa de opinião divulgada pelo Datafolha, Bolsonaro teria 31% dos votos no segundo turno da corrida presidencial contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva Lula manteve a liderança em relação a Bolsonaro — que levaria 56%.
“Podem ter certeza: lá teremos verdades, lá teremos realidade sobre o que é o nosso Brasil e sobre o que nós representamos verdadeiramente para o mundo”, disse.
No ano passado, em plena pandemia de covid-19, Bolsonaro fez um discurso considerado “contido”. Ele afirmou que tinha “compromisso solene” com a preservação do meio ambiente e acusou líderes estrangeiros de atacarem a soberania do Brasil — quando disse que o Brasil é vítima de campanha de desinformação. Porém, os dados levantados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) desmentem Bolsonaro.
Presidente, agora, diz que cargo vale a pena
Apesar de já ter afirmado que ser presidente da República é “um inferno” e de “não fazer questão” de ser candidato à reeleição em 2022, Jair Bolsonaro voltou a repetir, ontem, em Arinos (MG), que só Deus o tira da chefia do Poder Executivo, embora tenha lamentado, nas palavras dele, pelo que sua família e amigos sofrem com seu cargo. Mas se desdisse em relação a ocupar o posto.
“Apesar das dificuldades, dos ataques, das calúnias, difamações, entre outras barbaridades, vale a pena ser presidente da República. Porque uma das coisas que mais me conforta é saber que naquela minha cadeira em Brasília não está sentado um comunista. Vamos vencer essa batalha; vamos, aos poucos, mudando o destino do Brasil. Tudo pode ser renovado, como se renova o Executivo, o Legislativo, e também o Judiciário”, disse.
Desprezando as suspeitas de irregularidades em contatos para a compra de vacinas, expostas pela CPI da Covid, Bolsonaro também repetiu no evento que o Brasil está completando “2 anos e 8 meses sem uma denúncia sequer de corrupção”. “Vou fazer o discurso de abertura. Um discurso tranquilo, bastante objetivo, focando os pontos que interessam para nós. É um palanque muito bom para isso também, serve como palanque aquilo lá. Vamos mostrar objetivamente o que é o Brasil, o que estamos fazendo na questão da pandemia, coisa que somos atacados o tempo todo né, bem como o agronegócio, a energia no Brasil”, explicou.
A comitiva brasileira que segue para Nova York, onde participará da assembleia das Nações Unidas, escapou de um constrangimento devido ao fato de Bolsonaro não ter se vacinado contra a covid-19. No meio da semana, as delegações estrangeiras que participarão da reunião receberam a orientação de que todos os participantes precisarão apresentar o comprovante de imunização. Porém, soube-se depois de que a exigência não se aplica a chefes de Estado — que deverão apresentar um teste PCR negativo em vez do passaporte de vacinação. Bolsonaro tem repetido que será o último brasileiro a tomar suas doses.
Mas, caso queira circular pela cidade, o presidente pode ter problemas, pois, desde o começo da semana, a prefeitura de Nova York passou a fiscalizar a regra que exige comprovante de vacinação para entrar em áreas fechadas, como bares e restaurantes, por exemplo. Sem o passaporte, só é possível realizar refeições na área externa.
A comitiva rumo a Nova York será composta de 18 pessoas, incluindo a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e vários ministros.
Fonte: Correio Braziliense.
Deixe um comentário