Depois de uma bem aproveitada temporada na barroca Budapeste, capital da Hungria, vejo-me em Berlim, desde sempre um dos destinos preferidos em minhas andanças mundo afora. Casualmente aporto na capital alemã exatamente no dia da abertura do Fórum Mundial da Economia em Davos, Suíça, evento anual que costuma reunir os bambas da política, economia, finanças e indústria do mundo inteiro, para avaliar e prognosticar os rumos da economia mundial daqui para frente.
O presidente Bolsonaro para lá se dirigiu, capitaneando uma espartana delegação da qual faziam parte, entre outros, o ministro da Economia, Paulo Guedes, o ministro da Justiça, Sergio Moro, o chanceler Ernesto Araujo e o filho do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro.
Como se tratava do début de Bolsonaro em eventos internacionais, pus-me a cavocar na mídia local, procurando por reportagens, notas e notinhas sobre o evento nos Alpes, para ter uma ideia da receptividade da comitiva verde amarela pela comunidade internacional.
Foi consenso geral que Davos 2019 prometia pouca agitação, pois as estrelas, o polêmico presidente americano Donald Trump e o não menos polêmico presidente Macron, da França, não dariam o ar de sua graça, em função de problemas domésticos em seus respectivos países.
O discurso de Bolsonaro em Davos teve pouca repercussão. O “Tagespiegel” informou que foi curto e morno, e quem esperava grandes revelações sobre o futuro governo saiu frustrado. Usou apenas seis minutos para a sua mensagem, quando tinha 45 à sua disposição, permanecendo sempre na superfície e no genérico.
Os investidores, no entanto, receberam com satisfação o seu anúncio de que faria do Brasil um dos melhores países para investimentos.
Foi o ministro Paulo Guedes quem roubou a cena, permanentemente em reunião para informar aos interessados o eventual caminho da economia tupiniquim.
Segundo o”Morgenpost”, causou perplexidade o súbito cancelamento da coletiva de imprensa da delegação brasileira, com a alegação de cansaço presidencial. Aparentemente, o cansaço não era tão grande, pois ele acabou dando uma longa entrevista à TV Record, de seus aliados evangélicos.
Observa-se que Bolsonaro detesta jornalistas e suas perguntas e acredita piamente que todos conspiram contra ele e seu governo. Seria prudente lembrá-lo que um presidente da República sempre será alvo de perguntas, ainda mais ele que pretende virar o país de pernas para o ar!
A “Frankfurter Allgemeine Zeitung” dedicou um bom espaço ao “caso Flavio Bolsonaro”, o que provocou, em Davos, a ira presidencial: “querem manchar o meu governo!”
Prefiro acreditar que tanto as estrepolias do herdeiro do presidente bem como a repentina e vertiginosa promoção na Caixa Econômica do filho do vice-presidente, general Mourão, causaram um certo desconforto nos eleitores do “Cavaleiro do Santo Graal”, que fez do extermínio da corrupção o seu cavalo de batalha. Podem ser levados a pensar de que “o monte é o mesmo, e que só mudaram as moscas”.
O presidente não se furtou a reuniões com chefes de estado e de governo e num encontro com empresários revelou que “nas últimas eleições, os brasileiros preferiram ele aos comunistas”.
Definitivamente, nosso presidente gazeteou as aulas de história contemporânea, pois continua confundindo o PT com os comunistas.
Comunismo havia na União Soviética, na China, no Vietnã, nos países do Leste Europeu e em Cuba, com economia coletivizada, nada de empresas privadas, liberdade de expressão e de locomoção.
Não tínhamos nada disso no Brasil, e o exemplo mais contundente é a nossa Havan: desabrochou, cresceu, engordou, se multiplicou e triplicou durante a era petista. E sempre sob o olhar da Estátua da Liberdade, odiado símbolo do decadente capitalismo ocidental. Jamais os comunistas tolerariam tamanha heresia!
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