O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPPC), o mais prestigiado organismo científico internacional a estudar a mudança do clima, acaba de publicar em Paris o seu mais significativo relatório sobre aquecimento global, no qual conclui que “as alterações do clima no mundo são muito provavelmente causadas pela mão humana”, sendo que a expressão “muito provavelmente” do IPPC significa uma probabilidade acima de 90%.
O documento ainda afirma que o aumento da temperatura global causará grave falta de água na China, America do Norte e Europa, e fará com que 200 a 800 milhões de pessoas passem fome até 2080.
Enquanto o mundo científico se pronunciava em Paris, o nosso chanceler Ernesto Araújo se encontrava em Washington para proferir uma palestra na “Heritage Foundation”, que congrega a elite conservadora da capital norte americana.
Temos que esclarecer que Bolsonaro, preocupado com a deterioração da imagem do Brasil no exterior, fruto de sua desastrada política ambiental e de seus infelizes embates com França, Alemanha, Noruega e Chile, resolveu botar em campo o seu chanceler e todos os embaixadores lotados no exterior para tentar polir a imagem do país e mostrar aos estrangeiros que as coisas no Brasil não são bem assim como a imprensa divulga.
Em sua apresentação no “Heritage Foundation”, o nosso chanceler deixou boa parte dos gringos boquiabertos: fez questão de afirmar que “o alarmismo climático mundial não passa de uma criação da imprensa” e que “a mudança climática nada mais é do que uma conspiração marxista”. Intitulou o governo Bolsonaro de “um amálgama liberal-conservador com base em nação, família e laços tradicionais, em oposição ao globalismo mundial”.
Neste ponto temos que salientar que Trump e Bolsonaro são praticamente os únicos líderes mundiais a negar terminantemente mudanças climáticas e o aquecimento global.
O prestigioso “Washington Post” avaliou a apresentação de “ideológica” e aconselhou Araujo a informar-se sobre “aquecimento global” na Wikipedia.
Fica a pergunta se não seria menos danoso à imagem do país esquecer as conferências programadas pelo Itamaraty, e deixar as coisas como estão.
Estreias cinematográficas
Certamente por pressão da sempre mais agressiva e poderosa bancada evangélica, o presidente Bolsonaro continua a sua ofensiva contra a Ancine, órgão que controla a produção cinematográfica nacional. Após cortar 43% do orçamento anual, reafirmou a sua firme disposição de vetar temas LGBT e assuntos que possam ofender a tradicional familia brasileira. Após despedir o diretor da agência, está à procura de um substituto “evangélico e que saiba 200 versículos bíblicos de cor”.
José Simão, colunista da Folha de São Paulo, já revelou o nome dos filmes a estrear proximamente em circuito nacional: “Bruna, a Pastorinha”, “Templo é dinheiro”, “Querida, converti as crianças” e “A dentadura do Pastor”.
O desfile
Com sua popularidade derretendo a olhos vistos, o presidente Bolsonaro resolveu reinvestir no marketing pessoal e aproveitou a festa da Independência para prestigiar alguns de seus mais fiéis e abnegados seguidores para compartilhar com a “nomenklatura” brasiliense o palanque oficial de 7 de setembro na capital federal.
Ansiosíssimos e munidos da roupeta de festa e de um fraldão para prevenir constrangimentos durante arroubos presidenciais, os fiéis empoleiraram-se em torno de um impassível Bolsonaro, flanqueado pelo baú e pelo dízimo, ou seja, Sílvio Santos e o controvertido bispo Edir Macedo.
Definitivamente marqueteiro este nosso presidente!
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