Com interesse crescente observo o desenrolar da crise política na República Federal da Alemanha, onde a chanceler Angela Merkel, nomeada pela terceira vez consecutiva pela revista Forbes como a mulher mais poderosa do mundo, vê-se às voltas com dificuldades para a formação de uma coligação partidária, que lhe proporcione a sustentabilidade política necessária em seu quarto mandato à frente a maior economia da Europa.
O que realmente chama atenção neste processo é o comportamento, as posturas dos partidos envolvidos, ainda mais se comparado aos usos e costumes vigentes na política brasileira. Apesar de sair vitoriosa nas eleições gerais realizadas em setembro, o seu partido, a conservadora União Democrática Cristã não conseguiu alcançar a maioria absoluta no Parlamento em Berlim, o que obrigou Merkel a propor uma coligação ao Partido Liberal como também ao Partido Verde, ambos de centro direita, não muito distantes do espectro político de seu próprio partido.
O sonho de uma aliança tripartite, no entanto, durou pouco: depois de seis semanas de extenuantes negociações, os representantes dos partidos chegaram à conclusão de que juntos não poderiam elaborar uma política consistente, à altura das necessidades de uma Alemanha, sem ferir e mutilar profundamente as cartas de princípio de seus respectivos partidos, o que não seria bem recebido pela base partidária, nem pelos eleitores.
Sem dúvida, um belo exemplo de maturidade política, ética e moral, quando partidos optam por manter-se afastados do poder, para não distanciar-se da visão política, econômica e social de sua agremiação, nem frustrar o seu eleitorado. Bem diferente do que se pratica no Brasil, onde todos se aliam a todos por um lugarzinho na máquina governamental, para servir-se, à vontade, das tetas do estado.
A situação pelas bandas de cá anda feia e, creio, ninguém está em condições de prever o que vai acontecer no dia de amanhã. Nossas instituições políticas estão abaladas ou falidas, nossas lideranças trancafiadas ou sendo processadas, e o empresariado tremendo nas bases, temerosos de que se revelem novas falcatruas, das quais sempre participaram ativamente. Se as eleições presidenciais se realizassem no dia de amanhã, não saberia em quem votar. Nada entusiasma, mas não me abandona o pressentimento de que se Lula conseguir efetivar a sua candidatura, Bolsonaro seria o único com cacife suficiente para derrotá-lo.
Sempre considerei verdade absoluta que grande parte da culpa da esculhambação que assola a política do país é resultado da acomodação crônica dos brasileiros e do desleixo político, cívico, ético e moral de nossa população. A grande maioria é desinformada, despolitizada, mas politiqueira, e não mostra o menor interesse em informar-se sobre a vida pregressa dos candidatos, prestigiando com seu voto, muitas vezes, candidatos comprovadamente desonestos e corruptos.
Em nossa cidade, tivemos um exemplo clássico de “cuca fresca” de eleitores quando da eleição para prefeito municipal em 2016. O franco favorito nas pesquisas eleitorais encontrava-se enrolado com o TSE, apesar de estar em plena campanha política. Nos instantes derradeiros da campanha, a Justiça Eleitoral vetou a sua candidatura, levando-o a apelar aos seus seguidores que “votassem no candidato Zéquinha, pois votando no Zéquinha estariam votando nele”.
Seus fiéis seguidores votaram em peso no candidato Zéquinha, mas esqueceram de se perguntar se Zéquinha tinha o talento, a vontade e a capacidade de administrar uma cidade de 120 mil habitantes, sem muita grana, mas muitos problemas.
O candidato do vetado levou o pleito, mas de imediato mostrou pouco entusiasmo pela nova função sussurrando ao seu subalterno imediato: “De hoje em diante seremos os primeiros gêmeos siameses na cidade, sem a menor chance de sobrevivência, através de uma intervenção cirúrgica”!!!
E assim caminhamos: amorfos e inodoros até a próxima eleição municipal.
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