Sem dúvida, estamos mais do que convencidos de que nos encontramos atolados numa baita crise, possivelmente a mais profunda na história de nosso país. Dentre as inúmeras facetas, a sanitária nos demonstra ser a mais grave, pois o combate ao vírus da Covid-19 já nos custou quase 300 mil vítimas fatais, além de uma média de 1850 mortes diariamente. Neste momento, o Brasil já é responsável por 20% das mortes pela pandemia no mundo.
Apesar desta trágica contabilidade, as autoridades competentes ainda não foram capazes de criar uma linguagem e estratégia únicas para o país, o que só aumenta o desafio, além de disseminar confusão e insegurança na população.
Também a batalha entre a vida e a morte acabou sendo politizada, encontrando-se num lado governadores e prefeitos que, desesperados pelo iminente colapso da saúde pública e pela falta de vacinas, lançam mão, sempre com maior frequência, de períodos restritivos e lockdowns, enquanto que na outra ponta, um presidente negacionista, devoto de uma cloroquina ineficaz e sabotador de toda metodologia científica, só pensa em ver todos trabalhando, para não ser confrontado, nas eleições presidenciais de 2022, com o ônus da inevitável crise socioeconômica pós-pandemia.
Pressionado pelo Congresso e com a pandemia em franca ascensão, Bolsonaro não teve outra saída do que cortar a cabeça de seu inepto, mas fiel e obediente ministro da Saúde Pazuello, e convidar para preencher o cargo a renomada cardiologista Ludhmila Hajjar, que, profissional esperta e experiente, negou-se ao papel de marionete, com um contundente não à cloroquina e um definitivo sim ao distanciamento social e todas as outras recomendações da ciência.
E assim, Bolsonaro preferiu decidir-se pelo também cardiologista Marcelo Queiroga, o quarto ministro da Saúde de seu governo, que ao que tudo indica, uma troca de seis por meia dúzia.
Enquanto isso, o Supremo Tribunal Federal anulava as condenações impostas ao ex-presidente Lula, restabelecendo desta forma, os seus direitos políticos, o que levou milhares de bolsonaristas às ruas para exigir uma substituição dos juízes do Supremo e uma intervenção militar com Bolsonaro na cabeça.
Em nossa cidade, os mais entusiasmados acorreram, devidamente embandeirados, ao Tiro de Guerra local, onde, apesar das restrições vigentes, não foram incomodados por viva alma, em suas comoventes e efusivas demonstrações patrióticas. É muito provável que o mito seja considerado essencial para a cidade, pelas autoridades competentes, o que explicaria a omissão.
A volta de Lula ao cenário político nacional é importante e fará bem à nossa democracia, apesar da pecha de pinguço e ladrão, resultado da corrupção institucionalizada no final de seu governo e de suas noitadas boêmias.
Ainda assim, Lula representa um período de mudanças sociais significativas em nosso país, reconhecidas local e internacionalmente. Salutar também o fato de que finalmente tenha surgido um político com reais chances de enfrentar Bolsonaro nas urnas, ainda que este embate entre os extremos não solucionaria os nossos problemas, pois vença quem vencer, criaria a mesma execrável polarização ideológica que só divide, impede o progresso e a paz social.
Um corajoso brusquense, disposto a festejar nas redes sociais a volta do ex-presidente com um “Lula livre”, foi rechaçado com um lapidar “Vai tomar no c…” por um furioso bolsonarista de plantão, o que indica que a expressão está se tornando uma marca registrada do movimento, depois que o chefe supremo ordenou que os jornalistas enfiassem latas de leite moça no fiofó, e o filho 03 não encontrasse destino melhor para as máscaras anti-Covid do que o furico da população.
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