Carlos Moisés, o nosso governador, acaba de sancionar a lei do Homeschooling, o ensino domiciliar administrado pelos pais, que doravante deverá figurar como uma das opções pedagógicas em nosso estado.
O ensino administrado em casa, juntamente com as escolas cívico militares, figura como solitário projeto educacional do governo instalado em Brasília, confeccionado sob medida para satisfazer as exigências de importantes nichos da base eleitoral de Bolsonaro, notadamente grupos religiosos ultraconservadores bem como os segmentos mais reacionários de seus seguidores, decididos a blindar as suas proles da suposta contaminação esquerdista, da sexualização das crianças, e da ideologia de gênero, um câncer que, segundo os bolsonarismo, assola as escolas públicas e privadas.
Surpreendentemente, a oficialização do Homeschooling, tão valorizado durante o Império e os primórdios Republicanos, vem despertando acalorados debates, com conclusões nem sempre convergentes.
Assim, a secretária da Educação de Brusque, Eliani Buemo, considera “ser ainda muito cedo para dimensionar”, acreditando que o tempo mostrará os resultados.
Já os secretários de Educação das vizinhas Guabiruba e Botuverá conseguem movimentar-se com maior desenvoltura pelo recém-criado projeto.
Afirma Marilene Maurizio Assini de Botuverá que “há formas de aprendizagem que pressupõem relação cotidiana entre alunos para o diálogo, argumentação, diversidade e que as regras valem para todos”, sendo complementada pelo guabirubense Alfred Nagel Neto que considera que “a escola não é um local para somente repassar o saber, mas também para interação social e convivência com outras crianças”.
Sempre encarei o período escolar como um estágio imprescindível para o desenvolvimento saudável e abrangente de uma criança, experiência que para a maioria representa o primeiro contato com “o mundo de verdade”.
É na escola que descobrimos que além do “eu” existe um “nós”, fazemos as nossas primeiras amizades, que podem durar uma vida inteira, descobrimos e exercitamos as emoções e aos sussurros, somos informados por colegas que a cegonha não existe, e que coelho e Papai Noel são o resultado da fantasia dos adultos.
Com o Homeschooling, tudo isto passará a fazer parte do passado, e privará alguns desta maravilhosa passagem pelo laboratório escolar, que nos prepara, com a devida leveza, para os nem sempre fáceis passos da vida adulta.
Não vejo o Homeschooling ocupando um lugar de destaque no universo educacional do século XXI, primordialmente em função de sua limitação técnica para preparar cidadãos aptos a enfrentar os desafios desta modernidade, em constante mutação em hábitos, costumes e valores morais.
Em verdade, tenho sérias dúvidas de que a maioria dos pais a se aventurar no Homeschooling, tenha a bagagem cultural, emocional e pedagógica necessária para preparar os filhos para as vicissitudes dos tempos atuais. Sem mencionar a disponibilidade de tempo e paciência! Com certa preocupação também encaro esta nova modalidade de ensino como um eventual nascedouro de segmentos fundamentalistas, políticos ou religiosos, uma fábrica de preconceituosos e bitolados, que só acreditam nas próprias verdades.
Um feliz Natal e um venturoso ano novo para os leitores de O Município!
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