Nos últimos tempos andei matutando um bocado e cheguei à conclusão de que nem sempre “Deus é brasileiro”, como reza o ditado. Talvez esteja ocupado demais com a crise mundial para se ocupar conosco, pois os últimos anos foram sofridos e de extrema dureza para a população brasileira.
E justo agora, quando estamos aguardando com ansiedade o resultado da reforma que promete dinamizar a economia e contemplar com trabalho os milhões de desempregados, nos chega a notícia de uma possível desaceleração da economia mundial, resultado dos péssimos índices econômicos das mais importantes economias mundiais.
Entre as causas, a mais importante talvez seja a guerra comercial entre China versus Estados Unidos que, em verdade não se limita unicamente a uma contenda comercial, mas sim uma luta pela hegemonia mundial a partir dos próximos anos.
Como seria de esperar, esta guerra entre as potências acabou afetando negativamente a economia de praticamente todos os países no mundo, levando os economistas a prognosticar uma recessão mundial a curto prazo.
As sobretaxas de Trump nos produtos americanos destinados a Pequim acabou tornando a mercadoria americana extremamente cara e o Brasil soube agir com inteligência e rapidez para suprir as lacunas na economia chinesa com produtos de qualidade similar, mas com preços mais competitivos. Num curto espaço, as exportações brasileiras à China quase que dobraram, destacando-se a soja, carne bovina e suína.
Como seria de esperar, Trump reagiu com azedume ao tête-à-tête sino-brasileiro, entusiasticamente aplaudido pelo vice-presidente Hamilton Mourão, mas encarado com certa frieza por Bolsonaro, refém de seu rigoroso alinhamento à política norte-americana.
Para o bem do país, deveríamos estar “numa boa” com as duas potências, imprescindíveis para o crescimento e o equilíbrio de nossa economia. O problema é que Trump exige fidelidade absoluta, e como o governo brasileiro já estar solidamente instalado nas partes pudendas do americano, teme-se que ele possa pôr em risco o nosso excelente relacionamento comercial com a China.
A vizinha Argentina também é candidatíssima a tornar-se um problema para a economia verde amarela. Mergulhada numa profunda crise econômica, os “gringos” já reduziram substancialmente as suas importações do Brasil. Para piorar a situação, nosso presidente, em sua recente viagem oficial a Buenos Aires, resolveu envolver-se nas eleições presidenciais argentinas, conclamando, em discurso, a população a votar em Macri, neoliberal e atual presidente, concorrendo à reeleição. Além do mais, tachou a chapa opositora Fenandez/Kirchner de “esquerdalha que, se vencer, transformará a Argentina numa segunda Venezuela”.
Note-se que a chapa opositora venceu, com folga, as primárias presidenciais na semana passada.
Nosso presidente é encarado com extrema reserva nos países democráticos, mas a dupla Guedes/Moro é alvo de contínuas demonstrações de respeito e admiração.
O economista Guedes continua executando bravamente a sua difícil missão, enquanto que Moro mostra-se opaco, sem élan, com cara de não sentir-se mais à vontade no papel de ministro da Justiça de Bolsonaro. Não me surpreenderia se, de uma hora para outra, fizesse sua trouxa e voltasse para Curitiba, de onde nunca deveria ter saído.
Bolsonaro não admite críticas, principalmente as que vem do exterior e Angela Merkel, chanceler alemã, tornou-se a vítima preferida para suas ironias e cinismo. Misoginia?
A política ambiental do governo tem atraído críticas dos ambientalistas locais bem como dos países preocupados com a preservação do meio ambiente.
Após a publicação da mais recente estatística, que acusou 3 mil quilômetros quadrados de desmatamento somente neste ano, ou seja, 15% a mais do nas mesmas datas de 2018, Alemanha e Noruega, mantenedores do “Fundo Amazônia”, congelaram os recursos destinados à preservação da biodiversidade e meio ambiente. Bolsonaro reagiu, com sua habitual elegância: “Não:”Não necessitamos deste dinheiro. Que Merkel faça bom uso dele, plantando árvores na Alemanha!”
Internamente, o presidente também adora uma confusão, criando situações e teses polêmicas e embaraçosas. Recentemente, a título de contribuir para o desaquecimento global, sugeriu à população fazer cocô um dia sim um dia não, com os domingos liberados. Achei a ideia interessante para nossa cidade, que se encontra na iminência de sérios problemas no fornecimento de água. Como a grande maioria dos brusquenses é fiel seguidora do “mito”, presume-se e espera-se que todos sigam religiosamente os ditames do chefe, executando com alegria e patriotismo. O problema da falta de água estaria resolvido e o prefeito e o Samae poderiam voltar a dormir com tranquilidade.
Infelizmente a polarização política e ideológica persiste, não dando espaço para o diálogo ou troca de ideias. O Congresso Nacional, surpreendentemente ativo, tem resistido com bravura às investidas autoritárias do Executivo. A população também tem se manifestado continuamente, através dos meios disponíveis, o que pode ser interpretado como uma lenta e gradual politização dos brasileiros.
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