A eleição para as duas casas do Congresso, uma inquestionável vitória política do presidente da República, revelou-se importante não só para nos indicar os rumos da política para os próximos dois anos, mas também para revelar preciosas facetas da “nomenklatura” que detém os fios do poder.
Ninguém duvida de que a entronização de Rodrigo Pacheco no Senado e do líder do Centrão, Arthur Lira, na Câmara dos Deputados, tenha sido fruto da intervenção direta do presidente no pleito legislativo, visto que, munido de R$ 3 bilhões, ministérios e cabides na máquina estatal, trocou suas bondades por votos nos dois candidatos apoiados pelo Planalto, provando-nos novamente que os representantes do povo estão mais interessados nas suas vantagens pessoais do que na fidelidade partidária e nos interesses do país.
O interesse maior de Bolsonaro em alavancar políticos aliados para postos chaves no Congresso vem da necessidade de blindar-se de um eventual processo de impeachment e de uma provável CPI da saúde, de poupar a sua prendada prole destas frequentes e insistentes investidas do Ministério Público Federal, de desengavetar pautas que lhe são caras, como a liberalização do porte de armas, a pauta de costumes da ministra Damares e a preparação de sua reeleição nas eleições presidenciais de 2022
A eleição também revelou-nos um novo, o autêntico Bolsonaro, que ao aderir com entusiasmo à regra do Congresso “é dando que se recebe”, nos comprova que “a nova política”, a cruzada contra a corrupção, a rejeição ao “toma lá, dá cá “, o trilhão das privatizações, nada mais foram do que uma conversa fiada para enrolar o eleitor.
A sua união com o Centrão, grupo fisiológico especializado em rabos presos e troca de apoio parlamentar por tetas no aparelho do estado, nos leva à conclusão de que nosso presidente agora está mais perto de Lula do que da figura fake das eleições presidenciais de 2018. Saiu do armário e libertou-se para mergulhar de corpo e alma na velha política, seu berço e onde sempre se sentiu à vontade.
Estamos curiosos pela reação da fanática guarda pretoriana do presidente, sempre tão impiedosa, moralista e criteriosa no julgamento de adversários políticos. Continuará “mito”, mesmo depois de enterrar os supostos valores básicos do bolsonarismo?
Cá na terrinha, aplausos para o empresário Luciano Hang, que resolveu somar esforços com a saúde pública do município na luta contra o pandêmico Covid-19.
O meu bom senso, no entanto, me aconselha que, ao invés de gastar tempo e dinheiro com uma cloroquina e similares, todos sem eficiência comprovada na luta contra o vírus, mais eficaz seria convencer nosso presidente negacionista a compartilhar com estados e municípios uma poderosa campanha publicitária para esclarecer e conclamar a população a respeitar e seguir os ditames da ciência de distanciamento social, uso da máscara e vacinar-se, na certeza de que ninguém vira jacaré.
A vacinação em massa é a única forma de voltarmos à normalidade em nossa vida privada e no setor econômico.
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