Um país dividido

Tempo de leitura: 4 min

em 27/08/2022

Um país dividido

Ao observarmos o momento político de nosso país, constatamos de imediato que nada parece ser mais importante para uma parte significativa da população do que despachar Lula para a cadeia. Para muitos, tornou-se uma obsessão, beirando a neurose, certamente não só por amor à Justiça, mas principalmente para varrê-lo do cenário político, pelo menos por ora. Acreditam piamente que com a prisão do líder máximo, estariam resolvidos os mais graves problemas do país. Ledo engano.

Os três estados do Sul, tradicionalmente conservadores, tem-se mostrado excepcionalmente agressivos e raivosos com os petistas, impedindo a entrada da caravana Lulista em várias cidades gaúchas e catarinenses. Curioso observar que as táticas utilizadas nestas recepções inamistosos, parecem ter sido copiadas do odiado MST, configurando um lapidar exemplo da direita clonando metodologia da extrema esquerda.

Aqui em nossa cidade observamos outro caso semelhante, quando muitos daqueles que taxaram o ex-prefeito Paulo Eccel de “petista fanático” por ter-se deslocado à capital paranaense para solidarizar-se com Lula, que estava sob interrogatório da Lava Jato, subiram, há dias, a mesma serra, para prestar as devidas homenagens a Bolsonaro e ainda arremessar ovos na comitiva petista, que por lá também se encontrava. Fica a lição: nunca diga “desta água não beberei” e faça das sábias palavras de Ortega y Gasset o seu guia diário: “Eu sou eu e as circunstâncias”.

Definitivamente não me considero defensor de Lula ou do PT, e Lula nunca teve a minha simpatia ou voto. Mas nego-me, veementemente, a participar desta irracionalidade que tomou conta do país, desta politização de tudo e de todos, desta onda de preconceito e intolerância, onde cada lado, agora cego e surdo, se considera dono exclusivo da verdade, não permitindo que vozes moderadas patrocinem o fundamental diálogo para a solução dos problemas nacionais. Além do mais, não vejo nesta ideia fixa de jogar Lula na masmorra unicamente uma manifestação de irrestrito apoio ao estado de direito, mas também o desejo político de neutralizá-lo e de varrê-lo do cenário político para que outras forças políticas possam ocupar o espaço. Pelo menos por ora.

Dos pré-candidatos à presidência ,pouco se ouve, com exceção de Bolsonaro, que detém em Brusque um fiel, estruturado e ativo grupo de seguidores que, com permanente agitação nas mídias sociais, conseguem mantê-lo permanentemente sob os holofotes.

O empresariado local, supostamente muito bem preparado para os desafios do século XXI, até o momento não demonstrou o menor interesse em arregaçar as mangas e meter a mão na massa. Devem estar na expectativa e provavelmente creem que com a assinatura de um manifesto de protesto, cumpriram satisfatoriamente com sua obrigação de contribuir para o destinos de nosso país.

O mega empresário Luciano Hang, da Havan, que ao produzir um grande fuzuê midiático que prometia grandes novidades no cenário político, acabou deixando o povo frustrado: limitou-se a dar vazão à sua incomensurável repulsa ao petismo e coligados, mas colocando-se num vago “à disposição”. Newton Crespi, o outro pilar sólido da economia local, limitou-se a uma filiação ao partido Novo com a observação de que não estaria interessado em cargos eletivos. Espera-se que que não se ponham a arquitetar, cada qual em seu canto, governos “fantoches” para as eleições municipais de 2020. Seria um desastre.

Bolsonaro, fiel à cartilha populista, não se cansa de fomentar o medo e a insegurança da população, pois explorar crises sempre foi o forte, a espinha dorsal do discurso populista. Diviniza os militares do movimento de 1964 e está convencido de que somente os generais poderão evitar um iminente golpe comunista (deve estar pensando no PT) em nosso país.

Com este seu discurso, Bolsonaro revela uma certa fragilidade na interpretação dos fatos históricos: em 1964 vivia-se um momento histórico revolucionário, comunismo em franca expansão, e as poderosas vertentes exportadoras do marxismo leninismo como Cuba, China e União Soviética, disputando, com olhos gordos, uma maior influencia na condução dos negócios do gigante sul americano chamado Brasil. Em 2018, no entanto, o comunismo está morto e sepultado, sendo que Russia, China, Cuba e o Leste Europeu estão em vias de transformar-se em sólidas economias capitalistas.

Pessoalmente continuo acreditando que somente o aprimoramento dos sistemas da saúde e educação poderão conduzir o país ao primeiro mundo. Desta forma considero acintosa e ultrajante a afirmação do candidato militarista de que gostaria de ver um brucutu tatuado, ex-ator de filmes pornô e modelo de revistas gay, como titular no Ministério da Cultura. Certamente generais e brucutus não resolverão os problemas nacionais, o que aumenta ainda mais a responsabilidade dos brasileiros na hora de depositar o seu voto nas eleições de outubro vindouro. Se acontecerem…

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