Pelas páginas de O Município ficamos sabendo, não sem uma pitada de tristeza, de que algumas manifestações culturais da cidade já não fazem mais parte do calendário oficial de eventos do município. “Felicità – a festa das etnias”, a “Bierfest” de janeiro, Carnaval e Revéillon são alguns dos eventos sacrificados por falta de verba de uma prefeitura que gasta 50% de seu orçamento para pagar o funcionalismo público. Assim realmente fica difícil.
Além do mais, lia-se na imprensa no início do mês que o site da Fundação Cultural continuava “em zero” de eventos programados, o que nos leva a concluir que sempre mais a nossa cidade vai se tornando opaca, sem personalidade cultural, com uma população voltada ao trabalho e que se dá por satisfeita em poder abancar-se em frente do computador ou manusear por horas o WhatsApp. Vejo assim a realidade dos jovens, que pouco ou nunca participaram de uma vida cultural intensa, e assim não podem sentir falta de algo que desconhecem.
Quem não nasceu ontem sabe que as coisas por aqui já foram diferentes. A cidade fervia e os grandes empresários também funcionavam como agentes culturais, atraindo artistas de renome internacional, como o pianista Fritz Jank e a soprano Erna Sack. Um conservatório de música abrigava uma centena de estudantes e o Coro Infantil Amadeus Mozart e dezenas de bandas folclóricas abrilhantavam as festividades da cidade.
A velha Brusque eventualmente fervia intelectualmente, o que atestam os jornais da época. Há dias, presenciamos uma bela comemoração no recinto da Livraria Graf, em comemoração aos 40 anos do “Cogumelo Atômico”, grupo de jovens brusquenses que a partir de 1970 enriqueceram a cultura local com poesias, contos, pinturas e outras manifestações artísticas. A vida social também era intensa e clubes como o Atlético Renaux, Paysandu, Bandeirante e Caça e Tiro rivalizavam em eventos como o Baile de Debutantes, Carnaval, São João, Revéillon e o famoso Baile de Gala de 4 de agosto, data da fundação da cidade.
Decididamente, os tempos mudaram e nesta era digital, promover cultura deixou de ser uma prioridade. Chegou-se à conclusão de que permanecer em casa e curtir o computador pode ser mais interessante, confortável e econômico do que frequentar um evento qualquer.
Foi nessa linha de pensamento que acabou no cemitério a maioria dos eventos sociais mais elegantes da cidade, inclusive o baile pop e chique do MS. Sem mencionar a nossa Associação Artístico Cultural Brusque (Assac), que durante décadas proporcionou enlevo musical aos brusquenses, e que agora se encontra alojada, “de favor” numa residência particular, por não possuir local para funcionar.
Temo que Brusque esteja se tornando uma cidade dormitório, culturalmente sem personalidade nem brilho, cujos habitantes ganham o seu dinheiro durante a semana para gastá-lo a partir de sexta-feira em Balneário e adjacências.
Esperamos que o poder público acorde e dê à Cultura a importância que ela merece. Que elabore um consistente projeto cultural para a cidade, que beneficie principalmente os jovens, que dirigirão o destino de Brusque no dia de amanhã.
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